Sentado no meio-fio, descansando de caminhar, vi passar por mim, numa velocidade considerável, uma bicicleta. O mais curioso é que não consegui me deter nem no condutor e muito menos nos detalhes do veículo, nem cor, nem modelo, nada! A razão não foi a rapidez do deslocamento. O que me desviou a atenção da percepção do todo foram as redondas formas que engendram o movimento. Mais especificamente, uma das varetas de aço escovado que compõe o aro. Não me aventuraria a descobrir o já descoberto – a roda. Entretanto, lancei-me no delírio de enlaçar a vida naquele objeto. E, caso me permita divagar, creio que consigo estabelecer os pontos de interseção entre a existência e a haste.
Se bem observarmos, repetidamente passamos pelos mesmos sinais enquanto vivemos. Como a órbita do planeta que traça o seu percurso e volta ao ponto de partida, experimentamos o gozo e o sofrimento e a cada completamento do trajeto reconhecemos e aprimoramos tais sensações.
Assim, o pneu da bicicleta fecha, de tempos em tempos, um ciclo. Quanto dura a volta total? Tudo varia a partir do ritmo da pedalada e de o quanto estamos ainda com fôlego para empreender mais esforço. Vai dizer que não se parece à vida? Qual a periodicidade de retomarmos os fatos e as experiências? As coisas não estabelecem uma estrita dependência de fatores como disposição enfrentar? Não estamos a todo instante revendo se vale à pena correr mais ou diminuir a velocidade?
O certo, mas o certo mesmo, é que de uma forma ou de outra, mais cedo ou mais tarde, a vareta cromada da nossa vida volta a passar pelo mesmo ponto que tangencia o chão e no impulso de continuar existindo, segue o seu curso para fechar daqui a pouco mais uma volta.