quinta-feira, 12 de julho de 2012

Suspensão

Dado a termos baixos acessos (quase nenhum) nas últimas semanas, ficam suspensos os textos.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Revoada


Olhando aquela dourada pequena jaula, viam-se amuados – ou talvez amontoados – os sentimentos. De quando em vez saltava um mais afoito para exercitar as asas ou mesmo ceder espaço para que outro pudesse espichar as suas.
A menininha, apiedando-se dos aprisionados, engendrava um plano para dar fim àquele sofrimento.
Sorrateiramente aproximou-se e levantando a tranca deixou entreaberta a portinhola.
Bateram em revoada. Cada um dos sentimentos que passava rumo à liberdade dava uma paradinha na abertura, olhava pra um lado, olhava pro outro, tentava entender qual a melhor direção e partia. Foi uma enxurrada de atropelos. Cada um dos ex-detentos queria o mais rápido possível a nova ambientação, mais espaçosa e mais instigante.
O que lhes espera lá fora ninguém poderia ter certeza e a única maneira de saber era lançando-se à empreitada. Haveria um tempo de readaptação. Deveriam contar com isso para não acharem que esse “outro mundo” não era o mais adequado ou mais assustador. A verdade é que toda nova experiência requer cautela. Entretanto, salutar dizer que se esquivar, voluntariamente, de uma chance é acovardar-se. Não estamos falando das inconsequências tolas dos arvorados. Referimo-nos, aqui, sobre a capacidade de se auto-medir e gerenciar o inusitado como forma libertadora dos marasmos habituais e cansativos.
É tempo de buscar dar mais amplitude (e amplidão), mesmo porque só sabe o seu limite quem se permite entender. Bom exercício este, não? Você se inscreveria nessa tarefa?

terça-feira, 3 de julho de 2012

Guru Purnima


Rasgavam a escuridão da noite as luzes das estrelas que, serpenteando o céu, abriam caminho para que se elevasse, imponente, a luz cheia. Sentado à beira do riacho, o menino Ganapati movia em círculos, com seu pequeno dedo, as águas cintilantes. A mirada fixa no movimento deixavam entrever, no brilho dos olhos, que era noite especial.
O coração havia descoberto que a paz ali sempre fizera morada e que o cansaço das muitas caminhadas no intento de encontrá-la teve fim quando reconheceu em si mesmo o oásis da vida.
Naquele intervalo dos afazeres, os lampejos das empreitadas iam e vinham de sua mente. Rememorava a quantidade de vezes em que suplicou à existência para que ela lhe mostrasse o caminho. “Onde mais posso buscar?” Parecia um deserto sob cálida temperatura ou um estéril terreno o movimento de atingir a imorredoura sensação da eternidade. Nem mesmo a sombra da morte parecia-lhe, em outros tempos, a solução adequada. Ouvira dizer, inclusive, que interromper o próprio alento era postergar a solução da redenção.
Quanto mais revivia a peregrinação, mais o movimento da mão submersa na correnteza formava desenhos simétricos. Respirava com a tranquilidade de quem conquistara a vitória sobre si mesmo. Ganapati era agora sereno e recompensado.
Deitava sobre o jovem alongadamente recostado na relva a luz do luar, prateando a vida de quem sabia, na alma, que havia encontrado o dissipador da sua ignorância. É noite de Guru Purnima, Hare!