terça-feira, 19 de novembro de 2013

Sorrir

No centro do picadeiro, ele proporcionava a todos o esquecimento das tristezas. Era impossível permanecer sem uma gargalhada franca e aberta, sem o exercício da musculatura facial e até abdominal. Esta era a sua função: fazer rir. Nobre missão de tornar mais agradável a vida dos que o assistem e, por consequência, menos tensa. Sair dali, após vê-lo em ação, significava atenuar os dias e recarregar a fonte de baterias para seguir e enfrentar novos desafios. Sua voz, gestos, tropeços e cores abriam a porta de um mundo leve, se não real, era pelo menos o refrigério dos homens que buscam, naqueles momentos, crer na alegria.
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Pouco se lhe dava se sua profissão na boca de outros menos humanos era xingamento. Disfarçado entre os transeuntes (quando estava fora de sua tarefa), ele ouvia os tolos a pensar que ofendiam a outros homens chamando-lhes de palhaço! Coitados! Mal sabiam que para ele a palavra nada mais era do que a harmônica colocação de letras que se juntam para significar aquele que minimiza a dor.
 
Mas o que não passa pela cabeça dos que se divertem na sua presença é que por detrás da pasta branca que cobre todo o rosto, da boca exageradamente pintada e do nariz redondo e vermelho há a possibilidade de uma lágrima que pode escorrer quando no silêncio da noite ninguém o vê. O palhaço quase não se permite chorar por achar que desta forma estaria deixando de cumprir com aquilo que lhe é delegado. Porém, também (inclusive) ele pode ter seus motivos de pranto!

terça-feira, 12 de novembro de 2013

A hora não espera


Mais uma vez, tropeçando nas frases que me dão sobressalto, vejo-me atropelado pelo algoz dono das areias que escorrem nas âmbulas (nossa, que retórica!!!) transparentes da existência. Estava eu, facebookiando nas mensagens dos amigos quando, não mais do que de repente, deparei-me com o alerta de uma linda flor no Brasil nascida que dizia “a hora não espera”. Pronto. Empaquei!

Fazemos força para tentar freiar os ponteiros do relógio quando as coisas vividas são agradáveis e dão prazer na mesma medida em que buscamos acelerá-los se o que nos sufoca parece não ter fim, lá vamos nós!

Ô insatisfação nata! Bem não consegimos desfrutar de um e, menos ainda, suportar o outro. Tudo isso sem contar o número de vezes em que mal percebemos a diferença entre as horas fluidas e serenas e as arrastadas e movediças.

Longe, muito longe, de uma possível caracterização ou estabelecimento de traços marcantes, o tempo é ardiloso e se disfarça para deixar que nos emaranhamemos nele. E quando menos esperamos, záz... a dor de cabeça busca os motivos para justificarem o ganho ou perda de tempo.

Se repararmos direitinho, essa é a eterna luta dos homens: a todo momento arquitetam explicações para a fugacidade ou para a lerdeza da vida. Mas com uma coisa temos que concordar: a hora não espera mesmo!

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Intensidades e Sopros

Por esses dias, em meio a uma conversa, ouvi uma frase que acirrou ainda mais meu sentido aturdido com relação ao que me consome: o tempo! Não que eu o ache de todo ruim. Não disse isso! Até que, em certa medida, apesar da angústia, sei que é ele me move.
Mas deixemos de volteios para que vocês não percam o tino, nem o senso e retomemos o diálogo que me provocou as tais linhas que escrevo agora.
Em meio ao que se dizia, soou retumbante a sentença: “Na minha vida, as coisas mudam de uma forma tão rápida que até tenho medo.” Foi então que, por entre a desestabilizadora ideia da fugacidade e da velocidade, correram meus pensamentos a formar a rápida rebatida sobre a natureza dos homens: “Uns são brisas, outros ventos, e há aqueles que são vendavais!”
Sem necessariamente querer categorizar, nascia, ali, de forma natural, a minha concepção das castas humanas. Não passava pela minha cabeça se naquela definição haveria mobilidade ou consequências. A única coisa que em mim gritava era a verdade iniludível de que o tempo escorre para todos. Para uns em um ritmo frenético, para outros nem tanto assim e ainda os que, à beira do caminho, só esperam refrescar.

Em qual me encaixo? Ah, não! Aí já é demais...Vamos esperar outra esquina de conversa onde eu seja provocado. Quem sabe eu conto?