terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Sonho ou delírio?

Há alguns dias, ouvi uma sentença que tem martelado a minha cabeça: “a diferença conceitual entre sonho e delírio pode ser tênue, mas os resultados podem ser avassaladores”.
Dando tratos à bola, levei meus pensamentos a este binômio e eis que aqui estou.

E como se não fosse suficiente ser atropelado pela frase inquietante sobre o que os difere, fui além para investigar e concluir que quem sonha constrói, quem delira pode se perder.  O que mais afasta um termo do outro é o tempo que se investe em cada um. No sonho, o tempo tem tempo para ser sonho. É contado e é o suficiente para transformar um projeto em realização. No delírio, o que se diz ser tempo é a permanência infindável da inoperância para que não se saia do mundo das ideias.

Aquele que sonha, vê; o que delira, torna-se cego! Sonho é “caminho para”, delírio é “finitude em si mesmo”. O sonhador alimenta o ideal e avança, o delirante consome o constructo antes mesmo de torná-lo palpável. Um se regozija ao olhar a obra viva, o outro se martiriza para nem dar a chance de vir a tona o que pensa.
Ambos, muitas vezes, surgem no mesmo plano de sensações e vontades, porém, o que os faz serem diferentes, mais adiante, é o homem no qual eles nascem: há os que querem mudar o estado onírico – esses são os sonhadores –, como também existem também aqueles que desconhecem outra possibilidade de ser e estancam a caminhada.


O tolo não é transformador, enquanto o sábio está sempre buscando abrir espaço para mais e mais sonhar. Quem sonha tem tempo de ser feliz, quem delira se afunda na tristeza inexplicável da existência e ainda a culpa pelo infortúnio. Mas se não são estados voluntários da consciência, que sejam, ao menos, alvo de reflexões.