quarta-feira, 24 de abril de 2013

Cotidiano


N'outro dia me perguntaram por que eu não escrevia sobre o cotidiano. Cá eu a pensar em uma boa sentença que satisfizesse meu interlocutor, transformei as minhas reflexões internas em palavras sonoras, como se conversa fosse:
- Falar do preço exorbitante do tomate ou do ranking que ele disputa com a cebola. Discorrer sobre os monstruosos engarrafamentos da Radial Oeste até que cheguem a Copa e as Olimpíadas que nos livrarão das tensões geradas no volante e, talvez, venham a nos redimir dos xingamentos pensados e ditos entre dentes no tempo desperdiçado no mar de veículos que ferviam. Tecer elucubrações sobre se o atentado na maratona teria sido muçulmano ou vietnamita. Juntar-me às vozes dos que criticam a corrupção dos Poderes instituídos pelo próprio voto, enquanto povo. Revelar a tensão das mudanças contemporâneas que nos expõem, inclusive, quando estamos dentro de casa. Ou ainda dizer que os realitys shows são perda de tempo, mas no silêncio da porta fechada, o controle remoto - “sem querer” - parou naquele canal.
E depois de toda esta enxurrada de dia a dia, parei... respirei e sentenciei: Deixe que a vida por si só se encarregue de comentar o que os olhos, ouvidos e bocas já se arvoram na tarefa de anunciar. Que eu cumpra a parte do descanso (tempo-hiato das angústias que percebemos). Deixe que comigo permaneça a manutenção da ilusão de que vale a PENA, gastar tintas de minha PENA não com as PENAS da dor. Muito mais sentido terá usá-la como PENAS das asas altaneiras do meu delírio libertador.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Questão de tempo


Fosse eu dar crédito ao que me definem como tempo, estaria morto. Estaria mais atolado na perseguição dos ponteiros do relógio. Mais ainda do que já ando!
O que configura um calendário não pode ser os dias que transcorrem e, muito menos, a sucessão dos fatos numa linha – imaginária – temporal. Estivesse restrito a isso, eu sucumbiria mais rápido do que os anos que já vivi.
Recuso-me a me aferrar a esse grilhão. Não estou propondo romper as barreiras convencionadas pela espécie dos meus pares, ou seja, a humanidade. Porém, verdade seja dita, tempo é uma invenção do bicho-homem.
Se entender o que vim fazer neste mundo levar uma década, um século ou até mesmo um mísero segundo, o importante não terá sido o tempo que “gastei” para chegar à conclusão, mas sim a qualidade do resultado daquilo que encontrei.
Afoguem-se na angústia, senhores, pois afinal de contas, todos nós, em medidas diferentes, mergulhamos nela. Tudo dependerá da profundidade que se quer e que se poder ir. Sem escafandro ou com as aparelhagens as mais modernas, o que conta é o risco da submersão.
Isto é o tempo! A capacidade de reserva de ar que se tem para o mergulho... na vida.