terça-feira, 27 de setembro de 2011

Votos são mais que promessas

As promessas envolvem os ímpetos do momento e podem beirar a falta de lucidez. Já os votos, estes são atos conscientes da predisposição dos comprometimentos. E é por esta razão que hoje te digo:

Não te quero perfeção, mas te desejo inteiramente.
Não espero submissão, mas te desejo fiel.
Não exijo aceitação da forma como penso, mas te desejo pela sua compreensão com os meus pensamentos.
Não te imponho o que acho correto, mas te desejo com a predisposição para me ouvir.
Não julgo teus atos, mas desejo que sejas prudentes na hora de agir.
Não te controlo as emoções, mas desejo que te esforces pela serenidade.
Não te venderei ilusões, mas desejo permanecer nos teus sonhos.
Não acobertarei desmedidas, mas desejo ser o auxílio a tua temperança.
Não te lançarei ao vento, mas desejo voar contigo nas asas do que cremos.

Que não haja em nós a espera do amanhã, pois esta expectativa corrói e cansa. Que se existe uma eternidade, que ela seja agora e que nunca mais a possibilidade de ser feliz seja ameaçada pelo porvir, deixando nas aras dos deuses a decisão de viver.

Não te quero de outra forma a não ser esta de poder desejar-te ao meu lado! Aceitas?

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Compromisso e comprometimento


Aos compromissos podemos até faltar. Para tanto, uma boa desculpa, arquitetada e verossímil, pode convencer. Os compromissos são frutos de agendamentos e quanta vez são formalizados tão antecipadamente que corremos o risco de esquecê-los! Os compromissos envolvem mais de uma pessoa e mobilizam muitas atitudes para o seu cumprimento. Compromisso é data, é local, são condições. É um alerta temporal, com estabelecimento de critérios de início e fim, independente da largura que possa existir entre um e outro. Você, julgando-se capacitado, aceita o compromisso e espera o momento dele se concretizar.

O comprometimento é moral e se alimenta do seu foro íntimo. Ninguém precisa lhe cobrar – e nem conhecê-lo. Comprometer-se é mais do que aceitação. É escolha e recuperação. Um resgate de autorregulação, não com a dor da consciência, mas pelo prazer da construção da clareza do que se sabe ser capaz. Comprometimento pode, inclusive, ter data para iniciar e acabar, mas não se prende ao calendário como fonte primária de observação. O tempo é só uma consequência.

Há aqueles que lidam (e bem) com a convivência do compromisso com o comprometimento simplesmente porque não se deixam oprimir pela cobrança das relações interpessoais. Eles transitam entre os dois de forma tão acertada que esfacelam a necessidade das diferenças e esvaziam o sentido contraditório dos conceitos. São sábios pois não utilizam nem os compromissos e muito menos os comprometimentos para agirem em prol de um bem maior: a fé na certeza da missão de viver no mundo.
No fundo, no fundo, comprometem-se no sentido mais puro da palavra, qual seja, ser o local por onde flui a verdadeira complementariedade dos termos.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Ampulheta


Perguntaram-me por que “ampulheta”? O que tanto a questão do tempo aparece em meus devaneios como um fato a ser comentado e observado? Sem titubear, pois a resposta não precisava de reflexão, fui taxativo: dois são os motivos que me levam a ter naquele objeto a minha atenção.
Primeiro porque o tempo é inexorável; ninguém pode detê-lo. Isto sempre me assombrou e me atraiu, como dois sentimentos que caminham paralelos em mim. Em outros termos, para melhor me expressar, é dizer que devido as areias que escorrem terminamos por nos defrontamos com a nossa incapacidade de retroagir e diante do implacável (que é o tempo) atentamos para a nossa pequeníssima e frágil dimensão frente à existência.
O segundo motivo (nem por isso secundária razão) é o da possibilidade de fazer girar as âmbulas, passado o último grão de areia. Aferro-me a isto tal qual criança que não pode perder a sobremesa. Dá-nos a vida outras chances, não de refazer o já passado, mas de empreender novas formas de experienciar, tornando instigante e excitante o movimento da inversão do relógio do tempo. Uma vez mais, coloco-o “ɐɔǝqɐɔ ɐʇuod”.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Tempo, senhor do tempo?


Numa “conversa de bêbados” (absolutamente sóbrios) da qual participava, escutei uma frase nada original, mas magistral: - Maior do que o poder do sol, só o tempo. Lembrei-me de todas as instâncias em que o “magnânimo” senhor me espremeu e me fez atestar realmente o seu controle e a sua predominância sobre a vida. Não só porque a ele atribuem a cura de todos os males, como também, outorgam-lhe a gerência dos esquecimentos. Quem, dentre os mortais, nunca ouviu dizer que “com o tempo tudo passa”. Cabe-nos as inquietações: A quem é confiada a tarefa de fazer passar? Seria o Tempo o articulador dos mecanismos ou repousa sobre nossos ombros a capacidade de nos engendramos em tantos outros acontecimentos que rejeitamos as dores do passado e terminamos por esquecê-lo?
Fez fama o Tempo e ele, poucas vezes, deu crédito aos participantes do processo, ou seja, cada um de nós. Não o culpo, pois diante de nossas faces ele sempre expôs o rosto pronto às críticas. Quem não o esbofeteou, não o fez por não querer (ou por não saber, tanto faz!). Mas aqui sempre esteve e estará.
Não vou adonar-me da responsabilidade de dar a conhecer aos homens o quanto podemos também ser coautores do controle das nossas emoções e de nossos olvidos. Porém, faço questão de ser uma voz que se une aos tantos que resvalam na suspeita de que também podemos estar no leme de nosso viver. Ó objeto translúcido do mais fino cristal, ampulheta que és, dou-te até a prerrogativa, no movimento do teu escoar, de seres invocado como Senhor do Tempo.