terça-feira, 28 de dezembro de 2010

De perto e de longe

De perto, no mesmo nível em que estão os meus passos, não compreendes as voltas dou. Buscas entender as razões que me fazem caminhar por entre as imaginárias paredes do labirinto que tu inventas (não eu) para justificar os meus movimentos. E por ali vou, retorno, passo novamente diante de ti, sentes minha presença ritmada a tua retaguarda, incansável! E das voltas que dou, mais voltas dão os teus pensamentos. Emaranha-te neles! Não falas, não pedes explicações e permaneces a te remorderes no intuito de buscar plausíveis motivos para o que estou fazendo.
Devido a tua necessidade de entendimento ser maior do que a da tua confiança, és alçada a andares muito mais altos do que aquele que estavas. E de lá – aí sim – percebes o que meu trilhar fazia: tecia, fio a fio, com esmero e cuidado, a tela do que é amar. Na paisagem que agora vês, consegues enxergar de longe o que teus olhos não foram capazes de perceber ao meu lado. Infelizmente, tarde no tempo! No inexorável tempo que aplaca as possibilidades de retorno. E de onde te encontras, só te resta a observação, pois antes de confiar, teu senso tentava adivinhar pelo juízo de teus valores sem me dar a chance de terminar a obra que para ti fazia.
Curiosa é esta diferença entre as distâncias dos planos, que oferece a quem está junto uma oportunidade de exercitar a certeza e dá aos que afastados estão a única possibilidade de lamentarem o que não puderam aproveitar.
Sigo na labuta a espera de para quem possa oferecer meu tecido e tu, se quiseres, poderás prosseguir a mirar o meu tear.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Promessas e esperanças

Hoje serei direto e isto tem uma explicação: cortou-me a carne o fio afiado da faca!
Comecemos do simples para o complexo. “São as promessas que alimentam as esperanças”. Posso responder por mim, pois no meu caso funciona assim.
Reconheço que por vezes sou insistente em acreditar nas promessas feitas, nas conversas que tentam ser das reconciliações. Ouço a voz que diz “farei” e a isto me prendo. Entendo também que se não fosse deste modo, muito provavelmente, eu não existiria. Não consigo fazer de outra forma. Quando dou por mim, já foi... acreditei de novo! Pela estrada a fora da vida, vou crendo e buscando enxergar, ainda que em fragmentos, as pequenas possibilidades do que ouvi. Será que o que estou vendo agora se aproxima do que me foi prometido? Não! Ainda não foi desta vez. E ao identificar outra tentativa lá estou a buscar as ligações entre as suspeitas e os sinais quase apagados do que na minha cabeça poderia vir a ser um lampejo do que esperava. É mais forte do que eu, não consigo deixar de lado e nem quero acreditar que é melhor não crer. Esperando permaneço!

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Causa e efeito

Naquela noite, já altas horas, movia-se livre a minha sombra no solo sem conhecer qualquer obstáculos. Avançava, retrocedia ou mesmo assumia os contornos irregulares que ia encontrando a cada gesto meu. Ao bel prazer de sua vontade, à revelia das minhas tentativas de controle, ela brincava. E eu, ciente e consciente de que era meu corpo o responsável imediato da sua existência.
Quase como protesto, dei-lhe as costas (mesmo sabendo que ela permaneceria ali). Deparei-me com o azul mais escuro que o marinho, salpicado de luzes intermitentes – chamam-nas de estrelas, creio! - e qual não foi minha surpresa a derrubar minha fama de responsabilidade: era sim meu corpo quem criava a sombra, mas era a luz da lua a propulsão! Decepção!
Por bom tempo, meus olhos fitavam o contorno redondo do branco que se destacava naquele marinho mais marinho ainda. Tempo... tempo.. tempo. De golpe, assaltado pelos pensamentos que tentavam entender a dicotomia de quem era mais produtor da sombra, ela – a lua – ou eu, surge o estalo (dizem os doutos “insite”): nem um nem outro! De onde vem a tua luz, inspiração dos apaixonados e candeeiro dos loucos? Dirigia minha indagação ao satélite. É também reflexo mais distante que imaginas. Eu mesmo respondia. O que brilha, na verdade, é o que te toca oriundo das sobras do caminho entre a tua superfície, tão descontrolada como a que eu pisava, e o sol.
Sem vingança ou revanche (não adiantariam), rendi-me: a sombra era a consequência do sol!

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A ponte

Entre as teias dos meus silêncios transitas e eu, torpe, aferro-me na esperança de que as entendas. Como posso exigir-te as compreensões forjadas em meus esconderijos? Como querer que a linguagem de minhas “não-palavras” se traduza em tuas atitudes, sem sequer deixar claros os objetivos que conformam minhas necessidades? Neste hiato encontramo-nos! De um lado teu esforço e tuas limitações, esmerando-se em me saciar. De outro, eu ansioso na espera das respostas exatas que me satisfaçam. Arre minha angústia! Se quero verdadeiramente que me escutes, devo, antes de mais nada, falar-te ou pelo menos sinalizar-te que caminhos têm meus “mudos-falares”. Não quero gerar abismos intransponíveis. Arde em mim o desejo de lançar pontes possíveis no suor das ações que edificadas assegurarão nosso livre transitar. Eu em tua direção e tu vindo até mim, ali, bem no meio do caminho criado, entre o eco da minha mente e a tua mensagem marcamos nosso encontro, selamos nossa história, aprendemos e ensinamos as nossas línguas mutuamente! Vem! Pois, esforça-me-ei em ir também!