terça-feira, 31 de janeiro de 2012

No nascer do dia


Borbulhavam as espumas do mar, não pela agitação ou violência além do normal. Rompiam os limites de longe, chegando até a tênue linha entre as derradeiras ondas e a areia, e ao arrebentarem das alturas traziam consigo a melodia produzidas do mais recôndito das conchas-tritões.
Uma dança mágica que a poucos olhos atentos entretém. O aroma suave marinho espalhado pelo ar, a coloração forte azulada, com os bordados brancos aperolados que parecem rosários desfiados por mãos habilidosas. Brisa suave a desenhar na superfície delicadas contornos espirais na harmonia do ambiente. Toda paisagem se vê emoldurada pelo fundo de tela rosáceo dos primeiros aventureiros raios solares.
Sentado ali no pequeno arrimo que serpenteia a praia, meus pés, roçando o espelho d'água e meus olhos a fitar o horizonte, vejo leva-se das brumas de minhas lágrima a figura esquia e bela, coroada pelo divino existir. Sussurro para mim e ela me ouve: “Odoyá!”

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

As asas para voar


Ao abrir a porta, tropeçou num pequeno ninho. Agachou-se, fitou espantado e curioso ao mesmo tempo. Quem teria colocado ali o amontoado de palha? Havia dentro um diminuto pássaro, assustado e faminto. Levou para dentro o “pacote” (perdido, deixado, esquecido, nunca soube). E aí teve início o cuidado e a atenção. Correram os dias e a avezinha ganhou confiança e disposição. Plumagem cheia e reluzente, seu voo era planador e soberbo. De longe ouvia-se o seu trinar de alegria e segurança. Havia encontrado guarida e amor. Na esteira do tempo, a notícia da relação estabelecida entre o menino e o seu pássaro se espalhou. Muitos para lá acorriam com o intuito de admirar o espetáculo criado entre os dois. Era bonito de se ver.

Entretanto, atrelado a repercussão e a fama que se espalhou veio o receio do jovenzinho, pois tamanha beleza poderia despertar a inveja dos olhos alheios e a cobiça de terceiros.

Decidiu então resgardar seu pequeno tesouro de todas as formas. Evitava o sol com muita intensidade. Embarreirava o vento, impedia o pó da rua, não deixava abertas janelas nem portas... E a cada dia pensava em uma forma a mais para proteger o presente caro. Forjou em ferro dourado a mais linda gaiola que já se teve notícia, com espaço imenso e conforto de comida, água e poleiros.

Pronto... não corria riscos de ver sua felicidade exposta ao perigo externo.

Certa manhã, uma das mais azuis que o dia poderia fabricar, como sempre em sua rotina, foi alimentar o seu pássaro. Abriu a portinhola e com o assobio de sempre anunciou o início da jornada.

Silêncio (…)

Novamente, chamou com ar que entre os lábios passava.

Maior silêncio produzido ainda após o silvo (…)

Num canto da reluzente jaula jazia inerte o aveludado animal, cansado de não poder ser que verdadeiramente ele era: um pássaro a voar.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Amigos na plateia


“Quem me conhece aí, levante a mão!” Gritei para a plateia que me ouvia. Olhando a assistência, todos os rostos era absolutamente conhecidos. Sem querer arriscar, mas quase afirmando, não havia alguém que fosse estranho.

Instintivamente e somando-se a tudo que aqueles que ali estavam já haviam vivido de histórias comigo, todos alçaram os seus braços para o alto. Passavam, naquele momento, os mais variados flash mentais de cada um sentado a minha frente. As imagens me eram projetadas também em meu campo da mente e eu via (e ouvia) inúmeras aventura, agruras e sentimentos por mim experimentados.

O tempo se perdeu na sua consecução lógica, os acontecimentos não precisvam de cronologia para serem entendidos e, uma vez mais sentidos. Na filosofia pessoana significa dizer “viver tudo de todas as maneiras”.

Não me detendo em quanto ficamos ali revivendo cada sensação, interrompi a minha própria catarse, onde revi e tentei entender a grande maioria do que chamo de minha vida, para novamente me dirigir à plateia e, interrompendo a alimentação de dados que eles me forneciam, afetuosamente na calma (mas fiermeza) de minha voz, troxe para perto de mim o microfone e os alertei:

“Desculpem-me todos vocês. Peço que não cansem seus braços! Podem abaixá-los. Sinto muito decepcioná-los, mas tenho que lhes dizer que suas respostas não são verdadeiras. Não porque mentem, jamais pensaria isto de quem quer que aqui esteja, já que todos são meus amigos. Entretanto, devo, por dever de fidelidade fraternal, informar-lhes que nem mesmo eu me conheço e que a máxima socratiana tem sido minha busca. Oxalá chegue o dia em que possa voltar a me dirigir a vocês e dizer: agora sim, conhecendo-me a mim mesmo, posso ter sido conhecido por todos.”

Desliguei o microfone, desci do tablado e segui em frente...

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Imagens

Nascia o dia e lá se punha ele a viver o seu cotidiano, na esperança (jamais na insistência) de que todos o compreendessem. Mesmo tentando não se impressionar, encafifavam-se as ideias e embaralhavam-se os argumentos. Mas o fato era que ele dizia “esquerda”, a maioria dos que o ouviam ia para a “direita”. E não era questão de uso de língua estrangeira, pois estivesse onde estivesse, nesse mundo de meu Deus, usava o idioma local.
Ele não desconfiava que os homens agiam de propósito, que as pessoas assim atuavam para contrariá-lo voluntariamente. Não era por revanche, vingança ou picardia. Não! Mas o fato era que olhava sempre em direção oposta a sua.
Amofinava-lhe o senso tais atitudes? Provavelmente sim. Entretanto, para além da sua vontade, tinha que seguir os dias, uma vez que não estava em suas mãos aceitar ou rejeitar o trânsito entre os demais.
Passada a jornada, findava-se o dia e retornava a casa. Entrava, ainda dando volta na cabeça para entender o motivo pelo qual as pessoas diametralmente olhavam para o outro lado. Entrou nos seus aposentos, aproximou-se do espelho e para dentro dele mergulhou para o descanso merecido e o sono que lhe levaria para o dia seguinte tudo recomeçar.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

365 dias

O que você fará nos primeiros 365 dias deste ano? E você me perguntará: O que farei o ano todo? Antes de começar a responder eu lhe alerto: O ano todo não. Lembre-se de que fevereiro tem um dia a mais. Ou seja, você esperará o último dia do ano para fazer o balanço dos seus projetos?
Se a sua esperança se sustenta no desgaste dos dias, é hora de rever onde você tem alicerçado a sua vida. Corre o risco de 2012 já ter virado ano velho.
Lembre-se da noite do dia 31 do mês passado. Lembre-se de tudo o que desejou, planejou, sonhou, vibrou para que acontecesse. E agora? O ano já começou e o que está diferente? Será que vai esperar novamente o outro 31 de dezembro para renovar suas promessas de mudanças, rever e redirecionar as relações, as ações, os empreendimentos?
Não acha que é esperar muito para viver uma fugaz sensação de empenho que dura uma só  jornada ou, quem sabe até, parcas horas (as que se aproximam da meia noite)?
Como o tempo é realmente ilusório. Um ano novo nada mais é do que alguns bons pares de horas de um só dia, dentro dos 365 (ou 366, como agora) de todo o ciclo. Não faça isso com você. Busque entender que mais do que o anseio de um novo ano, você merece uma nova vida. De ontens a sua existência já se fez, de amanhãs, se for para só esperá-los, não acontecerá. Do que você nunca fugirá e nem escapará será de hojes.
Por isto, desejo-lhe a esperança de acreditar que você merece um Feliz Dia Novo!