terça-feira, 3 de maio de 2011

Escolhas

Diante de tantas portas e uma única chave, parado ali, só me restava entender qual deveria ser o procedimento e qual o objetivo da cena. Rápida a mente começa a conjecturar, duas eram as possíveis respostas: ou somente uma das portas encaixava-se perfeitamente na chave (propositalmente não falei sobre o encaixe da chave na porta) ou se tratava de uma chave-mestra!
Como ninguém me forneceu manual de instrução, fui a diante, investi o meu esforço na abertura de uma porta, deixando as outras.
Haveria tempo de testar porta por porta? Caso estivesse eu errado, haveria a recuperação da chance em outra saída? Arriscaria um tempo que sequer sabia existir?
Escolhendo, “desescolhe-se” tudo o mais (permitam-me o neologismo). Nisto não há problemas ou danos. Certamente porque o processo de se lançar em uma direção pressupõe o abandono das outras tantas.
Seja pelo motivo que for, tomamos o rumo da existência ou porque assim o quisemos consciente – e bancamos a atitude – ou porque somos engolfados pelas circunstâncias – o que fazer? A verdade é que as nossas seleções se configuram pelas oportunidades conquistadas, pela semeadura do que se intenciona, conta com o fator sorte ou acaso (nem excludente e muito menos inexistente), encontra guarida também na ausência de visão mais ampla, em suma, a vida, em múltiplas possibilidades, pode brincar conosco de originalidade. Estejamos preparados!
Talvez, o fator mais crítico do abandono das chances em detrimento de uma só seja a dor do não aproveitamento da posição em que nos encontramos. Pobre daquele que, seguindo um caminho, desfia o rosário de lamúrias do que deixou para trás, pois além de não experimentar o que ficou lá longe, na encruzilhada da tomada de decisão, ainda se desgasta com o fardo daquilo que colocou nos ombros para carregar.
Naquela coleção de poucos de segundos que me obrigaram a escolher, coloquei a chave, girei-a e cruzei o portal.
O que havia do outro lado? Isto é uma outra história!

5 comentários:

  1. Danielito, tu és um grande sacana, isso sim! Começa uma narrativa gostosamente cortazariana, que engrena suavemente e flui de um modo supergostoso, só para terminá-la ex abrupto, deixando aguados os que te leem... Quando então, pois, teremos a "outra história", ó criatura?!?!
    Que seja logo, para evitar que vosso nome tenha vaga cativa na boca do sapo mais próximo...

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  2. Nobre companheiro (de lejanas fechas.....jejejeje): Sendo os sapos os que pertençam a amigos como vc, não há pq me preocupar.. hehehehe..Afinal sapos amigos são só para darem sorte.... Não foi uma "escalera" cortaziana, mas o cerne da questão vc percebeu.. o que claro nao me espantou em nada... hehhehe;.. Gde abç...

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  3. Genial! Quantos desdobramentos e implicações por trás do que parece ser uma simples escolha. O texto revela que decidir entre um e outro(s) é o ponto de partida a uma viagem multidimensional sem volta. Lido o texto, é inevitável a reflexão sobre o destino: Mal sinado ou tomador de decisões equivocadas? Favorecido pelos deuses ou bom em abrir as "melhores" portas? Pouco importa! O que conta é que este delicioso texto nos ensina sabiamente como viver o momento que se segue ao ultrapassarmos o limiar de cada porta. Estou ansioso pela terça-feira que vem.

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  4. Mais um belo texto. Só me pergunto até onde (realmente) escolhemos ou somos escolhidos? Ainda estou refletindo.

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  5. Dani, adorei o texto. Temos que fazer escolhas o tempo inteiro, não é mesmo? Às vezes, dá um medo de fazermos a escolha errada! Mas Deus está sempre nos orientando e nos intuindo diante delas. Temos que estar abertos para percebermos os sinais que nos são mandados. Beijos!!!

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