Colecionava cristais, cuidadosamente guardados em caixa de prata. Com esmero e certeza do que possuía, sabia exatamente quantos tinha e de quando eram. Impressionante a forma como dispunha cada pedra daquela que reluzia ao ser limpa e expostas à luz.
As histórias de cada cristal não se confundiam jamais. Até porque, elas eram o resultado das lágrimas que produzia quando uma dor ou sofrimento se lhe tomava de assalto na vida! Inesquecíveis e guardadas, ali estavam sempre.
Não acreditando em bem que sempre dure – entendendo como bem aquilo que se possui e encarando os cristais como seus mais preciosos bens –, a sorte não lhe soprou a favor naquele dia.
Surpreendido pela cena de uma folha que havia despencado de uma alta árvore e que, soprando leve, uma brisa não permitia que ela caísse logo, um sorriso se esboçou no rosto marcado pelas rugas de tensão sempre alertas! Naquele momento, por distração, deixou que a mente vagasse no mesmo ritmo da folha. Dançando ao sabor do vento, os pensamentos largavam-se todos no entusiasmo provocado pela bailarina amarelecida do anúncio de chegada do outono. Chegava a rir... isto mesmo.. rir do que estava vendo.
Foi o suficiente para sentir que o seu colo começava a ficar molhado. Instintivamente abriu a caixa e, uma a uma, viu cada pedra de cristal desfazendo-se em liquido, voltando a ser lágrima. Perdeu-as todas e culpando-se por haver dado chance a sentir alegria, esquece o lapso do encantamento, torna a fechar a caixa e chora...
Recomeça a coleção de cristais!
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