Antes de me acusares como o subversivo do instaurado, dá-me a oportunidade de falar. Não te peço licença para me justificar. O que estou pleiteando é o espaço dos argumentos. Não tenho – e por certo não terei – a intenção de mudar as imagens e nem, muito menos, anseio lançar-me na autoria da desmitificação. Esse certamente não sou eu. O que faço, e isto permito-me assinar, é reposicionar-me diante do discurso repassado através do tempo. Complicado? Não! Basta ter calma e deixar que eu explique.
O que emoldura o meu cenário é a hipótese muito plausível de um instante anterior ao que foi legado à humanidade. Refiro-me ao encantamento narcísico. Todos aceitam a verdade da cena na qual o jovem se enebria de si mesmo, mas poucos retrocederam no jogo para questionar outras hipóteses como a que minha veia inquieta lançou. Por que seria tão absurdo que Eros tivesse chegado antes e, cumprindo com o que lhe é missão, houvesse disparado sua flecha na alma do menino? Ó crueldade dos ímpios, quantas vezes foste tu mesma que buscaste desculpas para o amor? Permite que eu potencialize outras possibilidades que não só as restritas consagradas. Narciso apaixonou-se sim, mas não unicamente devido a uma maldição lançada. Houve sim, naquele local uma confluência dos atos e, na concordância do acaso, vi juntarem-se a magia, o desejo e o destino.
Eis então, querendo tu ou não, o resultado do que penso ser processo: Não há mergulho em si mesmo se não existe a presença prévia de um Eros.
terça-feira, 31 de maio de 2011
terça-feira, 24 de maio de 2011
Vaticina Tirésias
O que impressiona é o enquadramento da cena. Só se observa – ou pelo menos só se difunde a imagem – o espelho d'água, o desenho do rosto alvo tremulando nas ondulações provocadas pelo vento que por ali passava e debruçado à beira do rio aquele corpo bem feito de musculatura e textura. O silêncio também colabora com o tema e quase impede de questionar os motivos que levam o imberbe a estar paralisado no ato da admiração. Está inebriado pelo que vê? Encanta-se com a própria face reproduzida? Provavelmente sim. Mas não esta não é a razão absoluta da questão. Os olhos pouco curiosos não percebem um entorno mais amplo. A espreitar, do alto de uma copada árvore, uma sombra se delineia. Mais corpulento, porém não menos definido e alvo, a figura aponta a sua seta em direção ao jovem tombado às margens das águas.
Eis o encaminhamento da explicação plausível: Ele fora atingido pela poção do apaixonamento e por desconhecimento ou inocência não soube livrar-se de si mesmo e cristalizou a paisagem. Parou no tempo de tanto se olhar. Fato que desestabiliza o astuto observador e força-o a lançar a segunda flecha. O toque pouco suave e repentino da pontiaguda prata embebida no veneno do amor fez com que o autoadmirador assustadiço pulasse e perdendo o domínio do próprio corpo, rompesse a inércia e caísse no curso da fonte de seu enfeitiçamento. A dor no coração de Eros se traduziu no traço de uma única lágrima em seu rosto que ao tocar o solo, molhou a terra onde havia nascido a flor de Narciso.
Eis o encaminhamento da explicação plausível: Ele fora atingido pela poção do apaixonamento e por desconhecimento ou inocência não soube livrar-se de si mesmo e cristalizou a paisagem. Parou no tempo de tanto se olhar. Fato que desestabiliza o astuto observador e força-o a lançar a segunda flecha. O toque pouco suave e repentino da pontiaguda prata embebida no veneno do amor fez com que o autoadmirador assustadiço pulasse e perdendo o domínio do próprio corpo, rompesse a inércia e caísse no curso da fonte de seu enfeitiçamento. A dor no coração de Eros se traduziu no traço de uma única lágrima em seu rosto que ao tocar o solo, molhou a terra onde havia nascido a flor de Narciso.
terça-feira, 17 de maio de 2011
Em paz!
Tudo começa realmente pela percepção do entorno. Antes mesmo de uma avaliação criteriosa, as primeiras impressões constroem um conceito, ainda que este possa ser posteriormente refeito com bases mais sólidas de conhecimentos e informações mais fidedignas. Mas, inegavelmente, o princípio parte da sensação.
Assim, tem início a brisa. As folhas e os pedaços de tantas outras coisas espalhados no chão denunciam que se aproxima o vento. Tudo se move! Quanto mais o tempo passa, mais se entende do que se trata. Aumenta a intensidade do ar em movimento. O corpo oscila, a poeira atrapalha a visão, a temperatura também muda.
O embate se faz! Não há como fugir. As vozes, em tons tão diferentes, daqueles que assistem colaboram com a surdez e há pouco espaço para a lógica do pensamento. É a aproximação do redemoinho que paralisa a ação.
Dói e assusta o instante exato em que o tufão toca a pele. A solução é enrijecer o corpo e resistir ao que vem de encontro.
Enquanto o pó e os destroços que formam o vendaval chegam não existe raciocínio. Permanecem o incômodo, o medo e o desconhecido. A única coisa a fazer é nele entrar (ou se deixar engolfar). Eita transição amarga e aviltante!
Estando em meio ao giro frenético do destempero da natureza, a angústia aperta a garganta, o grito não sai. O tempo perde os ponteiros e parece infindável. Tudo roda, entontece e entristece.
Vencidos esses eternos segundos, lá no centro da confusão, uma situação, no mínimo, mostra-se insólita. Um silêncio impressionante e uma ausência de turbilhão. Os olhos enxergam o lado de fora e percebem que ainda resistem os que se apavoram e gesticulam corpos e mentes. Não se ouve o que dizem e não se entende o que sinalizam, mas o fato é que ali, enquanto a velocidade centrifuga à volta, o olho do furação é o estado a ser vivido em paz!
Assim, tem início a brisa. As folhas e os pedaços de tantas outras coisas espalhados no chão denunciam que se aproxima o vento. Tudo se move! Quanto mais o tempo passa, mais se entende do que se trata. Aumenta a intensidade do ar em movimento. O corpo oscila, a poeira atrapalha a visão, a temperatura também muda.
O embate se faz! Não há como fugir. As vozes, em tons tão diferentes, daqueles que assistem colaboram com a surdez e há pouco espaço para a lógica do pensamento. É a aproximação do redemoinho que paralisa a ação.
Dói e assusta o instante exato em que o tufão toca a pele. A solução é enrijecer o corpo e resistir ao que vem de encontro.
Enquanto o pó e os destroços que formam o vendaval chegam não existe raciocínio. Permanecem o incômodo, o medo e o desconhecido. A única coisa a fazer é nele entrar (ou se deixar engolfar). Eita transição amarga e aviltante!
Estando em meio ao giro frenético do destempero da natureza, a angústia aperta a garganta, o grito não sai. O tempo perde os ponteiros e parece infindável. Tudo roda, entontece e entristece.
Vencidos esses eternos segundos, lá no centro da confusão, uma situação, no mínimo, mostra-se insólita. Um silêncio impressionante e uma ausência de turbilhão. Os olhos enxergam o lado de fora e percebem que ainda resistem os que se apavoram e gesticulam corpos e mentes. Não se ouve o que dizem e não se entende o que sinalizam, mas o fato é que ali, enquanto a velocidade centrifuga à volta, o olho do furação é o estado a ser vivido em paz!
terça-feira, 10 de maio de 2011
Escolhas II
Diante de mim, a sucessão de portas... a alternâncias e a variedade de oferecimentos não representavam a bondade de quem quer ajudar. Claro que não! Era sim a picardia de fazer com que o selecionador, no caso eu, paralisasse ante as incertezas e das dúvidas.
Num primeiro instante, a dicotomia se fazia representar pelo vacilo inevitável do susto e pela imperiosa necessidade de seguir. As duas opções por si só excluíam quaisquer outras possibilidades. Não havia nada que colaborassem com a dissuasão da confusão, restava somente o risco da escolha.
Fui...
Já do outro lado, cruzado o umbral, fechada a porta, era hora de seguir.
Os olhos ainda ardendo devido à transposição do ambiente, era o começo da adaptação aos novos tons de luminosidade do lugar.
Neste fragmento de tempo, alguns se apavoram e pensam que jamais voltarão a ver com a mesma plenitude de antes. Aí repousa a primeira sensação de fracasso que pode levar a perder a oportunidade da experimentação. Tempo... tempo.. tempo.... Tempo de esperar, tempo de se acostumar, tempo de entender o que faz parte do inédito. Não conseguindo, muitos se boicotam e desesperados estancam.
Passado o sufoco inicial, pé ante pé, lanço-me na tarefa de gerar movimento. Aguçam-se todos os meus sentidos conhecidos e chego a imaginar que existem outros que nem me dou conta. Estudando o espaço com o corpo, esbarro nos obstáculos, resvalo na incerteza do solo, sinto o vazio dos empecilhos, respiro com cuidado para não deslocar o desnecessário... É assim que, promovida a seleção, devo manter-me até que após longa convivência, o que era ignoto se aproxima do domínio do conhecimento.
E a vida, essa voraz desestabilizadora, quando me vê mais seguro, torna a apresentar no final do percurso outro feixe de portas para renovar o processo da escolha.
Então, lá vou eu outra vez!
Num primeiro instante, a dicotomia se fazia representar pelo vacilo inevitável do susto e pela imperiosa necessidade de seguir. As duas opções por si só excluíam quaisquer outras possibilidades. Não havia nada que colaborassem com a dissuasão da confusão, restava somente o risco da escolha.
Fui...
Já do outro lado, cruzado o umbral, fechada a porta, era hora de seguir.
Os olhos ainda ardendo devido à transposição do ambiente, era o começo da adaptação aos novos tons de luminosidade do lugar.
Neste fragmento de tempo, alguns se apavoram e pensam que jamais voltarão a ver com a mesma plenitude de antes. Aí repousa a primeira sensação de fracasso que pode levar a perder a oportunidade da experimentação. Tempo... tempo.. tempo.... Tempo de esperar, tempo de se acostumar, tempo de entender o que faz parte do inédito. Não conseguindo, muitos se boicotam e desesperados estancam.
Passado o sufoco inicial, pé ante pé, lanço-me na tarefa de gerar movimento. Aguçam-se todos os meus sentidos conhecidos e chego a imaginar que existem outros que nem me dou conta. Estudando o espaço com o corpo, esbarro nos obstáculos, resvalo na incerteza do solo, sinto o vazio dos empecilhos, respiro com cuidado para não deslocar o desnecessário... É assim que, promovida a seleção, devo manter-me até que após longa convivência, o que era ignoto se aproxima do domínio do conhecimento.
E a vida, essa voraz desestabilizadora, quando me vê mais seguro, torna a apresentar no final do percurso outro feixe de portas para renovar o processo da escolha.
Então, lá vou eu outra vez!
terça-feira, 3 de maio de 2011
Escolhas
Diante de tantas portas e uma única chave, parado ali, só me restava entender qual deveria ser o procedimento e qual o objetivo da cena. Rápida a mente começa a conjecturar, duas eram as possíveis respostas: ou somente uma das portas encaixava-se perfeitamente na chave (propositalmente não falei sobre o encaixe da chave na porta) ou se tratava de uma chave-mestra!
Como ninguém me forneceu manual de instrução, fui a diante, investi o meu esforço na abertura de uma porta, deixando as outras.
Haveria tempo de testar porta por porta? Caso estivesse eu errado, haveria a recuperação da chance em outra saída? Arriscaria um tempo que sequer sabia existir?
Escolhendo, “desescolhe-se” tudo o mais (permitam-me o neologismo). Nisto não há problemas ou danos. Certamente porque o processo de se lançar em uma direção pressupõe o abandono das outras tantas.
Seja pelo motivo que for, tomamos o rumo da existência ou porque assim o quisemos consciente – e bancamos a atitude – ou porque somos engolfados pelas circunstâncias – o que fazer? A verdade é que as nossas seleções se configuram pelas oportunidades conquistadas, pela semeadura do que se intenciona, conta com o fator sorte ou acaso (nem excludente e muito menos inexistente), encontra guarida também na ausência de visão mais ampla, em suma, a vida, em múltiplas possibilidades, pode brincar conosco de originalidade. Estejamos preparados!
Talvez, o fator mais crítico do abandono das chances em detrimento de uma só seja a dor do não aproveitamento da posição em que nos encontramos. Pobre daquele que, seguindo um caminho, desfia o rosário de lamúrias do que deixou para trás, pois além de não experimentar o que ficou lá longe, na encruzilhada da tomada de decisão, ainda se desgasta com o fardo daquilo que colocou nos ombros para carregar.
Naquela coleção de poucos de segundos que me obrigaram a escolher, coloquei a chave, girei-a e cruzei o portal.
O que havia do outro lado? Isto é uma outra história!
Como ninguém me forneceu manual de instrução, fui a diante, investi o meu esforço na abertura de uma porta, deixando as outras.
Haveria tempo de testar porta por porta? Caso estivesse eu errado, haveria a recuperação da chance em outra saída? Arriscaria um tempo que sequer sabia existir?
Escolhendo, “desescolhe-se” tudo o mais (permitam-me o neologismo). Nisto não há problemas ou danos. Certamente porque o processo de se lançar em uma direção pressupõe o abandono das outras tantas.
Seja pelo motivo que for, tomamos o rumo da existência ou porque assim o quisemos consciente – e bancamos a atitude – ou porque somos engolfados pelas circunstâncias – o que fazer? A verdade é que as nossas seleções se configuram pelas oportunidades conquistadas, pela semeadura do que se intenciona, conta com o fator sorte ou acaso (nem excludente e muito menos inexistente), encontra guarida também na ausência de visão mais ampla, em suma, a vida, em múltiplas possibilidades, pode brincar conosco de originalidade. Estejamos preparados!
Talvez, o fator mais crítico do abandono das chances em detrimento de uma só seja a dor do não aproveitamento da posição em que nos encontramos. Pobre daquele que, seguindo um caminho, desfia o rosário de lamúrias do que deixou para trás, pois além de não experimentar o que ficou lá longe, na encruzilhada da tomada de decisão, ainda se desgasta com o fardo daquilo que colocou nos ombros para carregar.
Naquela coleção de poucos de segundos que me obrigaram a escolher, coloquei a chave, girei-a e cruzei o portal.
O que havia do outro lado? Isto é uma outra história!
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