terça-feira, 30 de novembro de 2010

Pequena Morte

Deitado à sombra dos exercícios de minhas sensações, nos instantes subsequentes a minha pequena-morte, resgato as lembranças que ainda me provocam o prazer que me proporcionaste. Ali estou, extenuado, embora não cansado pelo esforço empreendido. Percorrem em minhas veias, nos intervalos estabelecidos do arfar ritmado de meu alento, as tuas provocações que, no cenário imediatamente anterior a nossa união, pude antever e que agora confirmo através do repouso merecido. Ousadia a minha dizer que cumprimos com as nossas expectativas e a confirmação de nosso intento se vê refletida no perfume que ainda exalamos. Neste cenário, espraia-se a denúncia do nosso encontro.
Passados os primeiros segundos, na recuperação das musculaturas que se distenderam, sinto que o traço desenhado entre nossos olhares confirma o movimento da atração e dão indícios de prosseguimento.
Resta-nos, então, eternizar, na tela da alma, isto que jamais se repete. Cabe-nos alimentar, no esconderijo das certezas, a renovação de nossos propósitos. Permitamo-nos, pois, o sonho de criar outras oportunidades de, ao entrelaçar nossos corpos mais uma vez, ressuscitar.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Breve espaço de luta

Diante do espaço em branco, a imperiosa vontade de ajudar me leva a lançar as palavras aqui. O objetivo está claro, a forma é que se encontra difusa! Sei o que devo expressar, mas sem rascunhar (valha-me Deus a era cibernética que aboliu papel-rascunho pela tela!).
O processo da escrita não é automático, mas é, no mínimo, efervescente (e ainda bem que o corretor ortográfico acusa que “efervescente” tem dígrafo!).
Hoje em dia, a escassez das palavras cortadas pela rapidez do teclado, os chats das “solidões” (são tantos os escaninhos do “sozinho” que o neologismo do plural se justifica), os ponteiros arrastados dos relógios e os calendários que voam nos fazem enferrujar o exercício do erro, do ensaio, do romance.
As necessidades das explicações se avolumam e lotam a página de parênteses, de aspas e de letras cursivas... Sem esquecer, é claro, das intercaladas por vírgulas e das reticências...
Um misto (sem a fome do mixto) de alívio de ver as linhas sendo preenchidas e o temor de esvaziar os argumentos de prosseguir. A antiga arte de escrever não morreu, por mais que parcos e parvos nisto tentem acreditar. Serão talvez as inovações e o abismo das sensações de um tempo que fomentam esses pensamentos. Mas, basta entrar numa Mega Store para ver a quantidade de tentativas de livros, consumo de tudo e na peneira da sorte, encontramos algumas boas revelações. Gerações se sobrepõem na velocidade do mercado editorial e da voracidade da auto-ajuda! Não disfarço a percepção dos assassinos da língua e da inteligência humana que se dizem escritores, mas sei também que tal fato não é um atributo exclusivo da modernidade. Também houve, certamente, os que na invenção da imprensa, jogaram palavras no papiro e disseram que escreviam.... Foram esquecidos! Estes de hoje também o serão! Aferro-me a esta crença e dela me alimento!
Entretanto, não fujo ao tema de falar o que me é dado como tarefa. Sinto-me aliviado de ter colaborado com o cansaço do academicismo que exige a norma dos padrões das “ABNTs” da vida e após tal jornada aqui percorrida posso dizer: acho que escrevi!

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Reconhecimento

Pela escuridão da descoberta vai se esgueirando a sensação da vulnerabilidade. Surpreendido integralmente pelas flechas que atravessaram os meus flancos, tombei muito mais por vergonha do que pelas feridas.
Agonizam as certezas que me enganaram construindo uma verdade volátil. Sou frágil também, e dessarte estremeci diante da ameaça de ventania que começou a soprar em mim! Na busca de refúgio, olhos ainda turvos do pó que se levantou, ocupei um espaço diminuto e mal ventilado. Sofro por aqueles que me circundam. Pobre deles!
O esforço respiratório faz-me arfar, aceleram meus caminhos vermelhos e um disparo inoportuno da alternância entre minha diástole e minha sístole me exaure. Rendido, ali bem em frente ao espelho do que pensava ser, devo recomeçar.
Não há mais a paciência do tempo de recuperação e do descanso. Não há mais o apoio das desculpas perdidas, uma vez que os últimos grãos das areias pendem. Não restam alternativas a não ser a única chance de prestar a minha homenagem aos que nesse instante peço perdão! Reconheço!

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Fundição

É noite lá fora...
Mas aqui dentro,
Na claridade do meu dia,
Vejo homens de areia fraca
Que escorrem, inexoravelmente
Pelas ampulhetas do Tempo,
Desfeitos... descompostos...

É noite lá fora.
Retomo o meu olhar
Para o esforço das mãos
Estendidas no socorro
A gritar atenção.

É noite lá fora.
Instantaneamente tomado
Pelo arroubo do momento
Faz-se a compreensão exata da forma.
E eis que as labaredas da razão
Arrefecem o incêndio
Da claridade do meu dia.
Ainda que continue a noite lá de fora.
Reconstruo a tênue existência
Daqueles homens:
Vejo-os agora
A transformar o pó
Em cristal obtido
A ferro e a fogo.
Pela mesma chama que intensifica
A claridade do meu dia.

Para sempre

Caminhava, a ermo talvez, entretanto sentindo pulsar nas veias a expectativa. Não poderia definir o que estava a minha espera ou o que eu encontraria... Seguia! Davam voltas em minha mente os pensamentos que construíam histórias, realizavam paisagens, contavam centenas de encontros, reações, decepções, fugacidades. Quantos pés trilharam as mesmas pedras harmônica e propositalmente justapostas naqueles corredores cinzentos no solo e verdes nas paredes? E mesmo em meio aos serpenteados muros de cedros milimetricamente cortados e aparados que contornavam os canteiros, apresentando suas formas geométricas e helicoidais, num labirinto de sensações assustadas, ali estava você, erguida entre tantas outras. Destacava-se não por traços específicos ou inexistentes nas demais, mas sim pela sutil diferença de trazer consigo a marca de ser minha. Foi suficiente o meu olhar em sua direção para que não restassem dúvidas e tão logo formada a imagem em minha retina, nesse mesmo segundo, nascia daquela flor o perfume inconfundível. Era o reconhecimento de uma atração que não se extinguiria mais. Você para sempre e eu eternamente!

Em outras palavras: No shopping, em frente a livraria, encontrei você!

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Combate à alergia

Ontem, resvalando nos meus pensamentos, deparei-me com uma camada de poeira que tinha quase a forma geométrica de um retângulo. Curiosidade aguçada e a desnecessária mania de meter a mão, soprando e varrendo, ao mesmo tempo, surgiu o título: “Guardadas para a próxima”. Como não folhear? Inevitável.
Sentei-me nos ponteiros do tempo, imobilizei o seu curso para reler e acreditar que eu mesmo havia selecionado alguns momentos e sensações da vida e colocado-os a disposição de uma oportunidade que nem sabia se iria chegar. É curioso ver o que as circunstâncias fazem de nós e de nossas chances. O que em um determinado momento parece-nos impeditivo de realização, e, por razões as mais diversas, decidimos encaixotar. No meu caso, colocar no livro das “Guardadas...”
Nada faz reparar os espaços deixados pra trás e não se retrocede no tempo, é verdade. Mas decidi, corajosamente, inovar ao renovar. Se não posso resgatar as mesmas questões – com todas as circunstâncias, envolvidos e envolvimentos – pelo menos tentarei criar condições de revisitar-me!
Hoje, ainda como forma de autoproteção, permaneço alérgico àquela poeira deixada pelas conjunturas vividas. Entretanto, mais incomodado com o que perdi, prefiro enfrentar a possível possibilidade de um espirro na retomada do que permanecer imunizado pelo medicamento da covardia.
Os ponteiros do relógio forçavam a sequência do seu caminho, lembrando-me que não o detenho, mas posso, quando muito, aplastar-me nos seus ponteiros, como fiz agora. Levanto-me e nariz já coçando, inicio a recuperação de mim. Não salvarei tudo e, possivelmente, nem a todos, porém, será, no mínimo, uma aventura. Lá vou eu!

Crepúsculo

Finda no horizonte
efervescente laranja
nas águas azuis.

Escorre a areia!

Bem-vindos, caros amigos:
E eis que a modernidade vai nos ajudando pouco a pouco. Confesso a vcs que relutei em revelar esta frustração de escritor. Acalentando o sonho inconfesso de um dia publicar o meu livro, ser lido e, mais que isso, que o conteúdo pudesse fazer bem a quem por ventura pudesse ler, cedi! Não tive o livro "de jeito mas trago dentro do peito" meu livro que não lancei! (obrigado pela ajuda Bandeira)

Quem nunca rabiscou versos em "mal traçadas linhas" (Dá-lhe Noel Rosa!)? Quem nunca arriscou dizer amar nas rimas consonantes e assonantes? Nós, amantes inveterados, nos arroubos dos sentimentos mais adolescentes da vida inteira, não faríamos diferente.

Espero, sinceramente, poder no espaço, que agora compartilho, também lhes dar a conhecer um pouco do que vai nesta alma andarilha das emoções vividas, desistidas, investidas, reprimidas, ocultadas e tantas outras vezes até sabotadas!

Boa viagem nas areias que escorrem nas ampulhetas do meu tempo e do nosso tempo!