Ontem, resvalando nos meus pensamentos, deparei-me com uma camada de poeira que tinha quase a forma geométrica de um retângulo. Curiosidade aguçada e a desnecessária mania de meter a mão, soprando e varrendo, ao mesmo tempo, surgiu o título: “Guardadas para a próxima”. Como não folhear? Inevitável.
Sentei-me nos ponteiros do tempo, imobilizei o seu curso para reler e acreditar que eu mesmo havia selecionado alguns momentos e sensações da vida e colocado-os a disposição de uma oportunidade que nem sabia se iria chegar. É curioso ver o que as circunstâncias fazem de nós e de nossas chances. O que em um determinado momento parece-nos impeditivo de realização, e, por razões as mais diversas, decidimos encaixotar. No meu caso, colocar no livro das “Guardadas...”
Nada faz reparar os espaços deixados pra trás e não se retrocede no tempo, é verdade. Mas decidi, corajosamente, inovar ao renovar. Se não posso resgatar as mesmas questões – com todas as circunstâncias, envolvidos e envolvimentos – pelo menos tentarei criar condições de revisitar-me!
Hoje, ainda como forma de autoproteção, permaneço alérgico àquela poeira deixada pelas conjunturas vividas. Entretanto, mais incomodado com o que perdi, prefiro enfrentar a possível possibilidade de um espirro na retomada do que permanecer imunizado pelo medicamento da covardia.
Os ponteiros do relógio forçavam a sequência do seu caminho, lembrando-me que não o detenho, mas posso, quando muito, aplastar-me nos seus ponteiros, como fiz agora. Levanto-me e nariz já coçando, inicio a recuperação de mim. Não salvarei tudo e, possivelmente, nem a todos, porém, será, no mínimo, uma aventura. Lá vou eu!