terça-feira, 30 de outubro de 2012

Rabiscos e rascunhos

Há momentos em que confundo rabiscos com rascunhos, mas um outro tantão de vezes o que faço é intencional mesmo e não estou iludido entre o que deliro e o que me faz tremer. Coisas diferentes são essas sensações. Tão díspares que, ao menor sinal de interseção, eu paro e espero que as pretensas confusões se amainem. Elas, por si só, seguem seus rumos.

Os ensaios minimizam os meus riscos, mas não conseguem me proteger na totalidade, pois não há como contar com o inesperado que, do nada, surge. 

Entretanto, em determinadas situações, o que faço, na verdade, é permitir o exercício do inconsciente para transferir para o alvo as questões insondáveis da alma. Nem são abismais, e muito menos rasteiras, as minhas divagações. Elas não entram no escopo da profundidade. Eu não as julgo por isso. Coloco-as na avaliação, sim, quando devem atender as minhas necessidades mais prementes. Se de forma rápida, alongada, funda ou rasa, não me importa, desde que cumpram com os seus papéis de seladoras dos vácuos que em mim percebo.

Do que falo? Aff! O que estou tentando dizer (será que consigo?) é que no transcurso das horas eu busco estar vivo!

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Parto



Grávido do mundo, a espera de um parto mais amplo em direção ao ilimitado momento de renascer. Pobre dos encarcerados na visão pequena de que não há nada mais além do que os olhos podem ver. Mesmo assim, seguem eles, a trancos e barrancos, a jornada. A diferença está entre sofrer os dias da incerteza ou se manter convicto de que haverá mais luz do que o breu do pessimismo. Opto pela segunda chance e disto não abro mão.
Existirão seguidores? Oxalá que sim! Entretanto, ainda que não veja no rastro do caminho outras pegadas, não me limitarei nas amarras do tempo e me prepararei para a hora da explosão de vida!
São tantas as oportunidades que os homens vendados não conseguem captar. Nem por isso elas deixam de estar à disposição de todos. Basta lançar para o alto a mão da vontade e capturar o seu quinhão.
Talvez alguns estejam se perguntando: “Mas que delírio!” e eu responderei: “De que mais se faz a existência se não houver espaço para transbordar a linearidade dos acontecimentos? Louco sim, da sanidade de viver”
Se isto não fosse, não estaria grávido do mundo a ponto de parir a bela vivência de mim mesmo na felicidade de estar aqui. O tempo que não passa é o presente que não se esgota. O inexorável ponteiro que aflige é o passado que arrasta as dores e a ilusão do aprisionamento do espaço é o futuro assustador dos que nem para trás e muito menos no agora se permitem ser. Não é o meu caso!

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Declaração


Amo as palavras! E o prazer que elas me proporcionam vem da íntima relação que estabelecemos desde os meus primeiros balbucios, onde vi nascerem as significações que aproximaram as pessoas. Representações incompreensíveis para a grande maioria, mas que ganhavam corpo dentro do seio familiar. Aí teve início essa história de amor.
Adoro-as devido à mágica que delas emerge quando se juntam, separam-se e tornam a se amalgamar numa incontável possibilidade de descreverem a vida. Rompem as barreiras do tempo e esfacelam o espaço, ocupam lugares e retorcem ponteiros.
Admiro-as pelo valor que dão aos tons do mundo. Contam e recontam as histórias, mudam os rumos, perdoam as derrotas. São a vitória dos que dela fazem bom uso e o algoz dos tropeçantes usuários.
Como disse o poeta – e em minhas mal-traçadas interpretações, reinvento: as palavras ou dão vida, ou podem matar.
Mergulho entre as encantadoras vozes que me levam a “mares nunca d'antes navegados” num bailado entre o profundo e o superficial que jamais me afoga. Roçamos nossos corpos, vivemos nossas emoções, sangramos nossas dores e rimos das tolices mais banais. Amo as palavras que conheci e já quero as que nunca vi. Sem conhecer divórcio entre nós, será eterno pois, ainda que chama, jamais se extinguirá.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Da série "Pelas ruas" - epílogo inconcluso

Pelo campo aberto das censuras internas, ia o andarilho (eu mesmo quantas vezes desconhecido de mim mesmo) a me perguntar: Se não me re-invento, quem, por Deus, nessa Terra engolfada pela falta de tempo entre os homens poderá fazê-lo por mim? Nem “Chapolin Colorado” conseguiria tal façanha.
Esforço-me, ainda que por vezes em vão. Outras tantas, amigos e irmãos, poucos prestam atenção. Culpa deles? Não! Certamente porque minha lente deve ficar embaçada e, na pressa, acabo por não reorientá-la na tarefa de limpar a imagem. Perco, logo pois, a oportunidade de que eles percebam meu empenho em dar nova roupagem às atitudes pétreas.
Então, por que, raios, fico cá eu a lhes exigir que me compreendam? Sinto muito... perdoem-me!
Nem pretendo a promessa da melhora. Até porque, se não consigo cumprir com o me refazer, como poderia assumir o compromisso público de demostração clara e efetiva das minhas adaptações e adequações ao tempo presente? Seria criar expectativas naqueles que me circundam e não seria justo.
Enquanto isso, vou levando, vivendo, revivendo, torcendo para entender e acertar. Com destino, mas sem uma obstinação que beira (ou roça) quase a cegueira dos infames e presunçosos.
O que esperar de mim? Bom... quem sabe você me encontra por ali, lá ou acolá, eu mesmo a me buscar, menos angustiado pelo causticante calor das areias que enchem a minha ampulheta. Boa sorte para você. Boa sorte para todos nós!

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Dia N


Certa vez ouvi de alguém que gosto muito que “hoje é dia de nada”. Crendo que é o melhor que podemos fazer, hoje sendo dia de nada me sinto desobrigado a convenções e cumprimento de normas socialmente impostas. Deparo-me livre para poder deixar que o dia transcorra sem a pressão das horas, sem o engolfamento do tempo, sem o sufoco da correria dos atalhos.
Isto posto, hoje é dia de me dedicar a mim e revisitar minhas próprias entranhas. Não será a oportunidade de dizer ou explicar, justificar ou argumentar. Definitivamente hoje não darei voltas na minha cabeça buscando palavras para não ofender, ideias para convencer e não amarrarei a cara na contrariedade do que possam querem me exigir. Não desistirei pesarosamente dos compromissos e muito menos abdicarei de qualquer convite (dos mais prazerosos aos mais enfadonhos), até porque hoje não os terei.
Hoje é dia de nada. Não me culparei por nada fazer, afinal de contas, não estou dizendo que hoje é dia de fazer nada. Digo sim que hoje é dia de nada. Nada do que cotidianamente me assola, me oprime ou me deixa tonto por “ter que”. Se essa sensação se chama liberdade eu não sei, mas que me soa como desanuviação e me proporciona um dia de tranquilidade, lá isso é verdade.