terça-feira, 26 de junho de 2012

Papel e vento


Sentado sem muito tino e nem destino, deixei-me levar pela brisa que brincava com um despretensioso pedaço de papel. Nada se interpunha entre os dois, fazendo com que trocassem favores: o vento exercia o seu poder de levantar peso, enquanto o papel usufruía da força alheia para voar. Assim, em uma simbiótica relação de aproveitamento, lá iam eles!
Um não se sentia mais usado do que o outro. Não era disputa. Era simplesmente a ocasião. Sábia relação!
Tolos são os papéis ou os ventos que se digladiam ou se exigem mutuamente, chegando ao cúmulo de se apoquentarem. Não desfrutam do tempo, não aproveitam o momento, amofinam-se e se ressentem. Perdem-se e jamais recuperam a chance do deleite.
Já alto vão os entrelaçados em uma inaudível permissão que os faz livre. Não a liberdade mal interpretada de se andar sozinho, mas a sensação interna que os liberta das cobranças. Seguem soltos consigo mesmos. Razão pela qual podem ser felizes. Tornam-se, pouco a pouco, um ponto no céu cada vez tão mais diminuto que chega a desaparecer de minhas retinas.

2 comentários:

  1. Vento e papel agem por força externa. Não pensam, não sentem... Pessoas sim, assim sendo, quando os pensamentos forem contrários irão lutar para que estes se harmonizem. Ninguém pode fazer o outro aceitar o que não lhe é certo ou o que não gosta. Perda de tempo? Não creio porque nesse ínterim, eles amadurecem e tentam, ao menos "tentam" entender o outro. Belo texto!

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    1. As metáforas, assim como as fábulas, podem lançar mão (e lançam) de inanimados. O que não quer dizer que não possamos fazer ilações com o mundo "dos seres pensantes".

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