Sentado sem muito tino e nem destino,
deixei-me levar pela brisa que brincava com um despretensioso pedaço
de papel. Nada se interpunha entre os dois, fazendo com que trocassem
favores: o vento exercia o seu poder de levantar peso, enquanto o
papel usufruía da força alheia para voar. Assim, em uma simbiótica
relação de aproveitamento, lá iam eles!
Um não se sentia mais usado do que o
outro. Não era disputa. Era simplesmente a ocasião. Sábia relação!
Tolos são os papéis ou os ventos que
se digladiam ou se exigem mutuamente, chegando ao cúmulo de se
apoquentarem. Não desfrutam do tempo, não aproveitam o momento,
amofinam-se e se ressentem. Perdem-se e jamais recuperam a chance do
deleite.
Já alto vão os entrelaçados em uma
inaudível permissão que os faz livre. Não a liberdade mal
interpretada de se andar sozinho, mas a sensação interna que os
liberta das cobranças. Seguem soltos consigo mesmos. Razão pela
qual podem ser felizes. Tornam-se, pouco a pouco, um ponto no céu
cada vez tão mais diminuto que chega a desaparecer de minhas
retinas.
Vento e papel agem por força externa. Não pensam, não sentem... Pessoas sim, assim sendo, quando os pensamentos forem contrários irão lutar para que estes se harmonizem. Ninguém pode fazer o outro aceitar o que não lhe é certo ou o que não gosta. Perda de tempo? Não creio porque nesse ínterim, eles amadurecem e tentam, ao menos "tentam" entender o outro. Belo texto!
ResponderExcluirAs metáforas, assim como as fábulas, podem lançar mão (e lançam) de inanimados. O que não quer dizer que não possamos fazer ilações com o mundo "dos seres pensantes".
Excluir