Houve um acordo tácito entre mim e o tempo nesses dias passados. A
trégua teve sua razão. Além de merecê-la, talvez eu sucumbisse,
caso não estabelecêssemos o acordo. Paramos os ponteiros do relógio
(ou ao menos fizemos com que eles andassem mais lentamente). Tanto
foi que, em alguns momentos, não sabia nem o dia e nem a hora em que
me encontrava.
Aceitas as condições que favoreceriam a ambos, caminhei como
peregrino do acaso. Juntei-me a outros três andarilhos naquelas
paragens, ganhamos liberdade!
Pisando estradas e picadas recoberta de cristais, sentimo-nos enormes
como quem sobrevoa acima das estrelas. Vimos poeira cósmica,
ganhamos terrenos e, entre rochas lunares, mergulhamos em poços
translúcidos. Cansamos o cansaço. Vencemo-lo!
Embrenhando-nos em nossa própria capacidade de superar, recuperamos
nossas forças em tonéis de nascentes aconchegantes. Ali suspiramos
e nos deixamo ficar. Fugiu-nos completamente a noção da sequência
dos segundos, minutos e horas. Tais tiranos foram embora!
Gargalhamos não pela obrigação da simpatia, mas o que sim em nos
jazia era a pura simpatia de sermos nós mesmos. Potentes, frágeis,
eloquentes, ousados ou tementes, éramos, na verdade, autênticos!
Florestas de crenças suprarreais, céus coalhados de histórias
(ouvimos muitas), riachos e cascatas que geravam melodias enebriantes
(por elas fomos envolvidos). Permitimo-nos este presente.
Olfato aguçado, distinguimos perfumes e incensos. Olhares atentos,
vimos detalhes inesperados e vida pulsante. Paladar avivado,
saboreamos a simplicidade e comemos manjares. Tato alerta, tocamos
formas e percebemos diferentes texturas. Ouvidos abertos,
distinguimos ruídos e escutamos o som do mundo. Um espetáculo
sensorial para além da explicação.
Eis pois, aqui, nobres e valorosas almas para sempre!
Terminado o contrato, voltou a ampulheta a nos cobrar o compromisso
do tempo! Entretanto, não nos restam dúvidas: valeu a pena!
Tenho certeza de que valeu a pena porque valeu MUITO a pena ler esse texto. Fantástico!!!!
ResponderExcluirEsse texto materializa de forma exemplar, todas as sensações experimentadas pela exuberância que a Natureza nos presenteia na Chapada dos Veadeiros.
ResponderExcluirPara esses "andarilhos", com certeza, foi uma felicidade especial além de toda essa paisagem que já seria o bastante.
Eu e Queninha teríamos todo o motivo do mundo para comentar cada parágrafo, cada palavra, a emoção bate forte, e destaco o seguinte parágrafo:
"...Gargalhamos não pela obrigação da simpatia, mas o que sim em nos jazia era a pura simpatia de sermos nós mesmos. Potentes, frágeis, eloquentes, ousados ou tementes, éramos, na verdade, autênticos!"
Valeu Dan, agradeço ao PAI em estarmos nesse encontro maravilhoso que é a VIDA!
É impressionante como é possível sentir sua alma nas suas palavras. Obrigada por compartilhar essa riqueza conosco!
ResponderExcluirPosso viajar, sentir e me confortar com suas palavras, pois você nos permite entrar na sua alma e sentir a felicidade de cada segundo que lhe foi permitido aproveitar. Lindo demais.
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