Subramani passou o tempo
necessário e exigido pelas normas do mosteiro a estudar e a aprender
a conviver com o seu próprio silêncio. Quantas vezes lhe doeu na
alma o esforço de calar a voz da mente. Sua dedicação suplantava
os incômodos ocasionados pela austeridade. Entretanto, antes de
compreender de forma mais ampla os objetivos da formação, ele fora
assaltado algumas vezes, em determinados momentos de sua preparação,
por pensamentos tolos: “Quem estaria dentro da minha cabeça para
saber que estou pensando? Relaxava e se despreocupava naquelas
“folgadas estripulias” da mente. Invariavelmente, surgia ao seu
lado algum monge mais velho e a reprimenda era certa! “Pare de
pensar, Subramani!”
“Mas como é possível
que ele saber que eu estou pensando?”
“Caro Mestre, o senhor
lê mentes?” perguntava inocentemente o aprendiz.
“O dia que receber sua
ordenação terá compreendido como se faz. Nada de leitura de mente,
meu jovem... nada disso! Tudo a seu tempo.. Você aprenderá.”
Seguiram-se os anos e
todo o tempo das lições trasncorreram até que chegou finalmente o
dia de receber na fronte o sinal carmim das cinzas monásticas. O
preparativo era lento, mas transparecia no ar circundante a alegria
do dever cumprido de todos os envolvidos. Jejum, abluções e muita
oração completavam aquele dia especial.
O som sagrado
initerruptamente ecoando pelo saguão anunciava o início do evento.
Entraram todos os mantos alaranjados, contritos e serenos. Terminada
a saudação ao Grande Senhor do Templo, ornado de uma guirlanda
vermelha e branca, o silêncio fez morada.
Tudo se orquestrava sem
nenhuma palavra. Inclusive o instante em que Subramani surgiu no
corredor central à porta do salão. Parecia que seus pés não
tocavam o chão no deslocamento em direção ao sacerdote que
oficiava a cerimônia. Em um clima de profunda paz, os traços
paralelos foram feitos na fronte do noviço. Do canto dos olhos duas
pequenas e brilhantes lágrimas corriam em sinal de júbilo por haver
chegado à meta. Estava pronto e ordenado. Rompendo o silêncio, o
monge mais antigo, mesmo com um tom suave, revela a última prova:
“Jovem Subramani,
olhando para todos estes irmãos aqui sentados em meditação,
diga-me, qual deles está pensando?”
Tomado pelo susto, pois
ninguém lhe havia dito que passaria, em público, por aquela
provação, o recém-monge enguliu em seco e sem poder perguntar
nada, observava a tensão no ambiente a espera de sua resposta.
Assim, movendo no seu íntimo tudo que poderia estar armazenado e que
lhe serviria de base para a resolução do mistério, voltou o seu
corpo compassadamente e observando a cada um, após algum tempo,
apontou para um dos monges.
“E como você sabe que
aquele monge não está com sua mente vazia?”
“Simplesmente porque
percebo que, ao contrário dos demais, ele tem movimentos faciais
mais intensos. A testa se franze, ainda que levemente. O canto dos
lábios se elevam involuntariamente. São detalhes mínimos, mas são
os únicos indícios que consigo detectar.”
“Muito bem, Subramani.
Eis o seu maior ensinamento: O olhar, janela da alma, quando está
atento consegue desfazer as fronteiras entre o visível e o
impalpável. Só a mente quieta é capaz de enxergar a plenitude a
ponto de 'ouvir' o silêncio e distinguir das confusões dos levianos
pensamentos. Leve consigo esta lição e seja feliz em sua missão de
tocar os homens com a sua paz! Vai e cumpra com o seu
prarabda-karma.”