Sei que há um mundo para além do alcance do que meus olhos podem ver, entretanto a pergunta que não me deixa é: se não conseguirei desvendar todos esses mistérios que povoam a alma humana desde sempre, por que eu, mortal, insistirei em deixar pegadas nas dúvidas? Tal atitude solucionaria a dor do universo? Se assim o fosse, seria o primeiro voluntário a integrar o elenco dos questionadores. Porém, algo me diz (e sem explicação do que me fala) algo me diz que é inócuo jazer no vácuo da pergunta. Simplesmente anseio alimentar o meu viver!
terça-feira, 29 de março de 2011
Perguntas e respostas
Não quero tropeçar nas certezas das respostas, pois até elas podem ser tão fluidas que são capazes de derrubar qualquer afirmação categórica. Prova disto está na quantidade de anos em que se acreditou piamente em que a Terra era plana. Daí, concluo: a angústia de quem vive ou pode estar pautada na expectativa do que o instante seguinte lhe reserva, é a famosa surpresa do futuro (e quem assim rege os dias acaba por não caminhar), ou bem pode localizar-se no cansaço da não-obtenção das explicações (estes perdem as esperanças). E como não quero me cansar mais do que o necessário, deixo para os afoitos ambas as tarefa. Desejo afastar-me dos quereres desregrados para que eles não sejam mais grilhões do que aqueles que já, por força de existir, arrasto. Não me esquivo de seguir os dias e nem me furto da arte de me lançar na chance do erro, do acerto, das tentativas, das frustrações, mas o que me nego – e nisto sou taxativo – é permanecer na sofreguidão da reclamação das inconstâncias que fogem à minha lógica.
quinta-feira, 17 de março de 2011
Bandeiriana: a vida que podia ter sido e não foi
Por incrível que pareça, o passado também se idealiza. Não o mudamos e nem limpamos as dores, principalmente aquelas que cortaram a carne. Não. O passado não é dissolvido no ar como poeira. Podemos fazer força para esquecê-lo (e as vezes somos tomados de uma amnésia sugestiva e intencional), mas o passado não se apaga. O passado por definição é: A inoperante chance do “poderia ter sido” (mas não foi!). Entretanto, ainda há aqueles que alimentam um passado tão vazio de significado somente pelo fato de não quererem sofrer o presente. Há os que criam um cenário tão longe da realidade, que chegam a crer, inocentemente, que viveram o que nem de perto se constituía como real. Chamam à memória uma sensação que, analisada de forma isenta, ver-se-ia como improvável. Mentem? Claro que não! Enganam-se? Talvez. Não por maldade ou mau-caratismo, mas querendo se defender do insondável futuro. Alguns, embora possam ter sofrido, naquele então, ofensas ou desprezo insistem em manter a soberba do ofensor e escutam, hoje, esse “algoz” com um ligeiro sorriso nos lábios, pois afinal de contas, “vivi aquele tempo” (que na verdade nem existiu!).
“Ó tolos arraigados, não vos maltrateis trazendo à tona o que não move mais os moinhos! Não vos recuseis a olhar os sulcos com perspectivas verdadeiras. E jamais temais enterrar os vossos passado.”
Dizendo não à violência que um passado criado pode trazer, certamente ele não deixará de ter acontecido, mas, obviamente, dará ao homem a única oportunidade de ser feliz: o presente. Não insistas em relembrar o que não foi tomado por ti. Aquilo tudo nada mais é, no agora, a miragem, absurdamente miragem, da sombra de um ontem. Não valerá à pena!
terça-feira, 15 de março de 2011
Voo-pássaro
Rasgam o cenário as duas lâminas articuladas da tesoura de sua cauda. Em contraste com o resultado alaranjado da mescla do ocaso, o traço azulão-prateado, parece, pela velocidade, querer manchar a palheta do céu. Trazes no teu voo o anseio da chegada do tempo de desabrochar. E, ainda que incerto, agarramos-nos na esperança de que uma vez mais será instante de florescer.
Resistente, teu senso de orientação deixa os olhos que te acompanham incrédulos, uma vez que repetes diariamente a trajetória sem errar a linha. Ágil, escapas das ameaças nos rasantes efetuados, e mesmo diante do perigo, a velocidade da sobrevivência faz-te elevar o corpo outra vez. Sem temer a distância, lança-te na aventura de buscar temperaturas mais cálidas na certeza de que perpetuarás a espécie. Tão pequena, mas tão imensa, a andorinha-exemplo faz corar de vergonha o homem que pouco conhece de si mesmo e falha ao estabelecer os projetos de controlar as areias da sua própria ampulheta que escorrem inexoráveis.
terça-feira, 8 de março de 2011
O caminho da poesia
Piso suavemente os versos da poesia. Por entre verbos, adjetivos e rimas meus pés se guiam para que não perca o passo nem o ritmo estabelecido por cada um. Não me tomem por herege e muito menos por soberbo, achando eu que posso ser superior. Ao contrário, minha pequenez me faz avançar, na vida, sustentado pela força das palavras cautelosamente são colocadas em cada linha. Altivo são os poetas que souberam dizer o que minh’alma sempre quis expressar. Ousados são eles que sem receio ou a preocupação dos derrotados esculpiram os degraus por entre os que caminho. Reconhecemos-lhes o valor, pois, ao lançarem no alvo branco da expressão o que lhes conforma o íntimo, não tinham por primeira opção a aceitação e muito menos a obrigação de agradarem a terceiros. O que verdadeiramente sempre lhes impulsionou – e peço permissão ao pleonasmo da emoção para dizer – foi a imperiosa vontade de entenderem-se a si mesmos, como o faço tão modestamente neste desabafo!
terça-feira, 1 de março de 2011
As sete qualidades capitais (cont.)
Reitero a minha necessidade de não estar condicionado a pautar meu comportamento em primeiro lugar pelo temor do erro. Ainda não me deram uma explicação plausível para que eu, ou qualquer outro ser humano, tenhamos que nos desdobrar nas atitudes considerando antes de tudo o que não devemos fazer. Cresci – e se cada um quiser também tomar para si o meu discurso – crescemos fomentados pelos efeitos que o pecado pode ocasionar na vida de um “digno” ser vivente. Razões até encontramos, sejam elas de cunho religioso (dogmático mesmo) ou motivos sociais de imperiosa vontade de controle. Mas o fato é: Por que para ser reconhecido como humano não me basta agir somente pelo prazer das ações ou o de bem-estar colaborativo em termos de humanidade? Quem me poderia justificar que antes de dizer o que é bom, precisamos construir a ideia do ruim?
Depois de tantas associações com o que se desenha de inferno para os transgressores, não quero chegar à conclusão de que o homem é bom não porque dele nasça essa prática, e sim porque ele teme ter que transitar entre os portais do purgatório e o fogo do inframundo. Não pode ser assim tão direta a questão! Ora, faço o bem não pela convicção, mas pelo susto do risco. Não quero acreditar que seja assim.
Desculpem-me a indignação, mas ser comedido, desapegado, desprendido, amável, alegre, empenhado e modesto não deveriam ser as medidas de seus opostos e sim, a bandeira a sinalizar a construção das interrelações.
Ainda restará um fio de esperança enquanto houver, ao menos, um entre nós que, de tempos em tempos, venha ao mundo a desafiar a força do instaurado e, quase martirizado, propuser a revisão dos conceitos. Não tem jeito, pensarei assim sempre!
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