Rasgam o cenário as duas lâminas articuladas da tesoura de sua cauda. Em contraste com o resultado alaranjado da mescla do ocaso, o traço azulão-prateado, parece, pela velocidade, querer manchar a palheta do céu. Trazes no teu voo o anseio da chegada do tempo de desabrochar. E, ainda que incerto, agarramos-nos na esperança de que uma vez mais será instante de florescer.
Resistente, teu senso de orientação deixa os olhos que te acompanham incrédulos, uma vez que repetes diariamente a trajetória sem errar a linha. Ágil, escapas das ameaças nos rasantes efetuados, e mesmo diante do perigo, a velocidade da sobrevivência faz-te elevar o corpo outra vez. Sem temer a distância, lança-te na aventura de buscar temperaturas mais cálidas na certeza de que perpetuarás a espécie. Tão pequena, mas tão imensa, a andorinha-exemplo faz corar de vergonha o homem que pouco conhece de si mesmo e falha ao estabelecer os projetos de controlar as areias da sua própria ampulheta que escorrem inexoráveis.
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