No centro do picadeiro, ele
proporcionava a todos o esquecimento das tristezas. Era impossível permanecer
sem uma gargalhada franca e aberta, sem o exercício da musculatura facial e até
abdominal. Esta era a sua função: fazer rir. Nobre missão de tornar mais agradável a vida dos
que o assistem e, por consequência, menos tensa. Sair dali, após vê-lo em ação,
significava atenuar os dias e recarregar a fonte de baterias para seguir e
enfrentar novos desafios. Sua voz, gestos, tropeços e cores abriam a porta de
um mundo leve, se não real, era pelo menos o refrigério dos homens que buscam,
naqueles momentos, crer na alegria.
.
Pouco se lhe dava se sua
profissão na boca de outros menos humanos era xingamento. Disfarçado entre os transeuntes
(quando estava fora de sua tarefa), ele ouvia os tolos a pensar que ofendiam a
outros homens chamando-lhes de palhaço! Coitados! Mal sabiam que para ele a
palavra nada mais era do que a harmônica colocação de letras que se juntam para
significar aquele que minimiza a dor.
Mas o que não passa pela cabeça
dos que se divertem na sua presença é que por detrás da pasta branca que cobre
todo o rosto, da boca exageradamente pintada e do nariz redondo e vermelho há a
possibilidade de uma lágrima que pode escorrer quando no silêncio da noite
ninguém o vê. O palhaço quase não se permite chorar por achar que desta forma
estaria deixando de cumprir com aquilo que lhe é delegado. Porém,
também (inclusive) ele pode ter seus motivos de pranto!
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