terça-feira, 19 de novembro de 2013

Sorrir

No centro do picadeiro, ele proporcionava a todos o esquecimento das tristezas. Era impossível permanecer sem uma gargalhada franca e aberta, sem o exercício da musculatura facial e até abdominal. Esta era a sua função: fazer rir. Nobre missão de tornar mais agradável a vida dos que o assistem e, por consequência, menos tensa. Sair dali, após vê-lo em ação, significava atenuar os dias e recarregar a fonte de baterias para seguir e enfrentar novos desafios. Sua voz, gestos, tropeços e cores abriam a porta de um mundo leve, se não real, era pelo menos o refrigério dos homens que buscam, naqueles momentos, crer na alegria.
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Pouco se lhe dava se sua profissão na boca de outros menos humanos era xingamento. Disfarçado entre os transeuntes (quando estava fora de sua tarefa), ele ouvia os tolos a pensar que ofendiam a outros homens chamando-lhes de palhaço! Coitados! Mal sabiam que para ele a palavra nada mais era do que a harmônica colocação de letras que se juntam para significar aquele que minimiza a dor.
 
Mas o que não passa pela cabeça dos que se divertem na sua presença é que por detrás da pasta branca que cobre todo o rosto, da boca exageradamente pintada e do nariz redondo e vermelho há a possibilidade de uma lágrima que pode escorrer quando no silêncio da noite ninguém o vê. O palhaço quase não se permite chorar por achar que desta forma estaria deixando de cumprir com aquilo que lhe é delegado. Porém, também (inclusive) ele pode ter seus motivos de pranto!

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