Sentado sem muito tino e nem destino,
deixei-me levar pela brisa que brincava com um despretensioso pedaço
de papel. Nada se interpunha entre os dois, fazendo com que trocassem
favores: o vento exercia o seu poder de levantar peso, enquanto o
papel usufruía da força alheia para voar. Assim, em uma simbiótica
relação de aproveitamento, lá iam eles!
Um não se sentia mais usado do que o
outro. Não era disputa. Era simplesmente a ocasião. Sábia relação!
Tolos são os papéis ou os ventos que
se digladiam ou se exigem mutuamente, chegando ao cúmulo de se
apoquentarem. Não desfrutam do tempo, não aproveitam o momento,
amofinam-se e se ressentem. Perdem-se e jamais recuperam a chance do
deleite.
Já alto vão os entrelaçados em uma
inaudível permissão que os faz livre. Não a liberdade mal
interpretada de se andar sozinho, mas a sensação interna que os
liberta das cobranças. Seguem soltos consigo mesmos. Razão pela
qual podem ser felizes. Tornam-se, pouco a pouco, um ponto no céu
cada vez tão mais diminuto que chega a desaparecer de minhas
retinas.