O único intruso do mundo era o feixe prateado que, entre as brechas
das distraídas cortinas, entrava tal como flecha de luz. Era
pontual. Tocava uma nesga do solo e brilhava como um espelho de
pequeníssima poça d'água. No mais, não havia nem ponteiros e nem
metragens. Desapareceram as linhas encarceradoras do tempo e do
espaço. Estávamos dispensados deles.
O ar, cravejado de diminutos sons arfantes, oferecia-se para nutrir
as possíveis necessidades de ser alimento para o transcurso dos
instantes (se dele precisássemos). A superfície que nos sustinha,
disposta em uma maciez desalinhada de formas, não requereria
reparos, pois se orgulhava de ser a testemunha das ondulações que
singravam os mares bravios que buscávamos mutuamente. Houvesse olhos
a observar notariam, vez por outra, duas sombras a se entrelaçarem.
Entretanto, na grande maioria do ambiente, só se percebia uma única
forma a se mover e a produzir a preciosa pedraria que brotava das
superfícies (resultado dos movimentos e do ritmo instaurado). Apesar
de salobra, era feliz.
Fadiga - vocábulo inexistente enquanto houvesse a crença de que ali
reinava o desejo das descobertas – não fez morada. Palmo a palmo,
os milímetros percorridos, os sulcos abertos, as clareiras
atravessadas, tudo era motriz para a permanência inalterada das
proibições de uma invasão temporal. Estancou-se o filete da areia
dentro da ampulheta.
Por fim, nos primeiros indícios de alvores do novo dia, ali
jazíamos, no nosso hiato das limitações, a nos regozijar pela
recompensa do merecido descanso de uma eterna noite amando-nos.
Lihdo demais.....
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