terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

É noite lá fora!


O único intruso do mundo era o feixe prateado que, entre as brechas das distraídas cortinas, entrava tal como flecha de luz. Era pontual. Tocava uma nesga do solo e brilhava como um espelho de pequeníssima poça d'água. No mais, não havia nem ponteiros e nem metragens. Desapareceram as linhas encarceradoras do tempo e do espaço. Estávamos dispensados deles.
O ar, cravejado de diminutos sons arfantes, oferecia-se para nutrir as possíveis necessidades de ser alimento para o transcurso dos instantes (se dele precisássemos). A superfície que nos sustinha, disposta em uma maciez desalinhada de formas, não requereria reparos, pois se orgulhava de ser a testemunha das ondulações que singravam os mares bravios que buscávamos mutuamente. Houvesse olhos a observar notariam, vez por outra, duas sombras a se entrelaçarem. Entretanto, na grande maioria do ambiente, só se percebia uma única forma a se mover e a produzir a preciosa pedraria que brotava das superfícies (resultado dos movimentos e do ritmo instaurado). Apesar de salobra, era feliz.
Fadiga - vocábulo inexistente enquanto houvesse a crença de que ali reinava o desejo das descobertas – não fez morada. Palmo a palmo, os milímetros percorridos, os sulcos abertos, as clareiras atravessadas, tudo era motriz para a permanência inalterada das proibições de uma invasão temporal. Estancou-se o filete da areia dentro da ampulheta.
Por fim, nos primeiros indícios de alvores do novo dia, ali jazíamos, no nosso hiato das limitações, a nos regozijar pela recompensa do merecido descanso de uma eterna noite amando-nos.

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