terça-feira, 24 de janeiro de 2012

As asas para voar


Ao abrir a porta, tropeçou num pequeno ninho. Agachou-se, fitou espantado e curioso ao mesmo tempo. Quem teria colocado ali o amontoado de palha? Havia dentro um diminuto pássaro, assustado e faminto. Levou para dentro o “pacote” (perdido, deixado, esquecido, nunca soube). E aí teve início o cuidado e a atenção. Correram os dias e a avezinha ganhou confiança e disposição. Plumagem cheia e reluzente, seu voo era planador e soberbo. De longe ouvia-se o seu trinar de alegria e segurança. Havia encontrado guarida e amor. Na esteira do tempo, a notícia da relação estabelecida entre o menino e o seu pássaro se espalhou. Muitos para lá acorriam com o intuito de admirar o espetáculo criado entre os dois. Era bonito de se ver.

Entretanto, atrelado a repercussão e a fama que se espalhou veio o receio do jovenzinho, pois tamanha beleza poderia despertar a inveja dos olhos alheios e a cobiça de terceiros.

Decidiu então resgardar seu pequeno tesouro de todas as formas. Evitava o sol com muita intensidade. Embarreirava o vento, impedia o pó da rua, não deixava abertas janelas nem portas... E a cada dia pensava em uma forma a mais para proteger o presente caro. Forjou em ferro dourado a mais linda gaiola que já se teve notícia, com espaço imenso e conforto de comida, água e poleiros.

Pronto... não corria riscos de ver sua felicidade exposta ao perigo externo.

Certa manhã, uma das mais azuis que o dia poderia fabricar, como sempre em sua rotina, foi alimentar o seu pássaro. Abriu a portinhola e com o assobio de sempre anunciou o início da jornada.

Silêncio (…)

Novamente, chamou com ar que entre os lábios passava.

Maior silêncio produzido ainda após o silvo (…)

Num canto da reluzente jaula jazia inerte o aveludado animal, cansado de não poder ser que verdadeiramente ele era: um pássaro a voar.

Um comentário:

  1. É exatamente assim a nossa essência...nos aprissonamos em detrimento de valores, conceitos e moral em nome do respeito(...) Ledo engano na verdade tudo isso é em função do medo de perdermos o olhar do outro enquanto amado e muitas vezes por medo do olho da inveja!!! Há porque essa, há que se ter cuidado! Não medo. Medo é uma forma de morremos em vida, se so você pode se responsabilizar pela sua natureza que já nasce aprissionada, seu dever é fazê-la crescer libertando da gaiola interior...O pássaro presente era a possibilidade de crescimento frente a vida...Pelo medo perdeu-se o passaro para a morte e toda possibilidade de crescimento do menino, este carregará consigo a marca, até que; quem sabe um dia possa perceber que aquilo que é ameaça para a vida, se não vivida tornasse convite a morte em vida!

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