terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Irmãs gêmeas

Sentou-se ao meu lado, com a educada frase “com licença”.Vestia-se bem, portava-se melhor ainda. Gestos tranquilos, voz calma. Boa aparência no geral. Iniciou a conversa, mesmo sem saber se eu queria, com os desgastados comentários sobre a beleza do tempo e da temperatura ambiente. Para não ser descortês, aquiesci e concordei vagamente com sorriso “mais ou menos”. Diante da minha resposta, prosseguiu na tentativa do diálogo. Não estava ali com tempo marcado e nem estava com projeto algum. Razão pela qual, dirigi um pouco mais meu corpo na sua direção, relaxei e ampliei as respostas. Das genéricas atmosféricas, não sei como e nem porquê, chegamos a outras assertivas e interrogantes. Não havia nada de maldade (isso era perceptível). Desta forma, em determinado momento, notei que as perguntas extrapolavam a curiosidade e eram quase que formulações de ideias que precisavam de minha confirmação. Como poderia aquela mulher saber tantas coisas sobre mim? Coincidência nas perguntas amplas demais que se pergunta a qualquer um? Notava que não! Cada vez mais as perguntas se tornavam mais específicas. Ela, serena e bem colocada, movia-se e eu, sem entender, envolvia-me!
Não aguentando mais aquele mistério, era minha vez de interpelar:“A senhora me conhece? Como é possível ter essas informações sobre a minha pessoa sem me conhecer?”
“Acalme-se! Não é para espanto e nem desespero. Posso lhe explicar.” Assim, iniciou o breve e o mais profundo discurso que já tinha ouvido!
Eu e minha irmã sempre lhe acompanhamos muito de perto. Desde sempre e para sempre nossa missão é estar ao seu lado. Não há como ser diferente. Por isto sabemos absolutamente de tudo que você fez de forma consciente e até mesmo quando você agia sem ter claro para você mesmo os seus atos. A diferença entre mim e minha irmã é uma única. Dela você sempre se lembra e se aferra cada vez mais. De mim, você, como a grande maioria, acaba esquecendo, rejeitando, não querendo conhecer e muito menos cogita ouvir-me. Já me acostumei, não sofro por isso, mas confesso a você que seria menos doloroso para todos se me vissem como gêmea mesmo de minha irmã. Não para assustar ninguém. Seria tão mais brando, geraria menos traumas, facilitaria a compreensão e a vivência se todos aceitassem de vez que vida e morte “nascem” no mesmo instante em que o homem chega ao mundo.

4 comentários:

  1. Seria isso a dualidade intrínsica ao Ser Humano???

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  2. Bem, não temo e nem deixo de pensar nessa outra "irmã gêmea", não, aliás, ambas estão bem presentes na minha vida. Mas, que momento foi esse em que você se deparou com tal presença?

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  3. Este texto me fez lembrar uma música do Cazuza que diz:"Eu dei de cara com a morte e ela estava viva."

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  4. Roberta: Vivemos e vivenciamos essa dualidade o tempo todo. Qdo despertamos para a ilusão que tudo isso é, aí sim, vemos o mundo com outros olhos.
    Zito: Sempre me deparei com as irmãs.... Sempre mesmo..Nunca me assustaram.... Mas de um tempo para cá, isto tem sido muito menos traumático na minha vida.
    Ione: "Eu vi a cara da morte e ela estava vida". Essa frase tb sempre me chamou a atenção nos versos cazuzianos..E tem outro tb: "foi por amor o assassinato da flor.
    Obrigado a todos pelos comentários

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