Não dá para dizer que haja uma preocupação com a quantidade de
assistentes na plateia que possa medir a ansiedade da atuação. Este
não é o fator que gera o sentimento da apreensão. Da mesma forma,
não é a condição da estreia que faz com que o coração bata
aceleradamente. Em poucas palavras, tanto faz “casa cheia” ou
bilheteria zerada, primeira apresentação ou a derradeira, a questão
é você no centro do palco.
Quando a ribalta acende, todos as variantes desaparecem, mesmo porque
as luzes dos refletores em cima do ator, além de transformá-lo em
personagem, impedem-no de enxergar o que está fora do palco. Nem
distingue o entorno e muito menos é ele sozinho (perde-se a condição
única de carne e osso e passa a ser carne, osso e “persona”).
Todas as possibilidades se renovam a cada apresentação. Tudo pode
acontecer diferente do que houve na véspera. E com quem conta o artista,
ali, na “hora H”? Com ninguém a não ser ele mesmo e as
circunstâncias que o instante produz.
Tais são as razões que me fazem explicitar a tensão que brota do
enredo da vida. E por mais que a expectativa seja a de que, no final
da encenação, haja aplausos, o suor frio escorre escondido pela
maquiagem e a espinha gela a alma.
Isso é o que chamamos de vida. Adorei!
ResponderExcluirDá pra sentir a tensão e o frio na barriga. Quantas vezes já não passei por tal situação e quando termina, vi que sofri tanto inutilmente, porque vi monstro aonde não existia. Texto impecável Daniel.
ResponderExcluirA não ser pelo cenário que você escolheu nessa metáfora, excelente texto!
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