terça-feira, 29 de novembro de 2011

Abre-se a cortina


Não dá para dizer que haja uma preocupação com a quantidade de assistentes na plateia que possa medir a ansiedade da atuação. Este não é o fator que gera o sentimento da apreensão. Da mesma forma, não é a condição da estreia que faz com que o coração bata aceleradamente. Em poucas palavras, tanto faz “casa cheia” ou bilheteria zerada, primeira apresentação ou a derradeira, a questão é você no centro do palco.
Quando a ribalta acende, todos as variantes desaparecem, mesmo porque as luzes dos refletores em cima do ator, além de transformá-lo em personagem, impedem-no de enxergar o que está fora do palco. Nem distingue o entorno e muito menos é ele sozinho (perde-se a condição única de carne e osso e passa a ser carne, osso e “persona”). Todas as possibilidades se renovam a cada apresentação. Tudo pode acontecer diferente do que houve na véspera. E com quem conta o artista, ali, na “hora H”? Com ninguém a não ser ele mesmo e as circunstâncias que o instante produz.
Tais são as razões que me fazem explicitar a tensão que brota do enredo da vida. E por mais que a expectativa seja a de que, no final da encenação, haja aplausos, o suor frio escorre escondido pela maquiagem e a espinha gela a alma.

3 comentários:

  1. Dá pra sentir a tensão e o frio na barriga. Quantas vezes já não passei por tal situação e quando termina, vi que sofri tanto inutilmente, porque vi monstro aonde não existia. Texto impecável Daniel.

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  2. A não ser pelo cenário que você escolheu nessa metáfora, excelente texto!

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