terça-feira, 8 de novembro de 2011

Tragados


Os afobados do tempo começam a se movimentar quando se dão conta que termina mais uma fase. Eis que se aproxima a angústia dos anúncios de TV para nos lembrar que o fim do ano está chegando. Mas fim de que? E aqueles que se debatem entre as promessas não cumpridas e o desespero de terem que renovar os votos para o que acham ser um tal futuro tão próximo? Pobre deles. Mal conseguem passar pelos portais que eles mesmos geraram. Apressados, querem logo levantar os pés do lado vivido e plantá-los (bem plantados os dois) no vindouro momento. Uma espécie de remissão do pecado de não ter realizado aquilo que se propuseram a fazer. Mas quem deles cobra? Quem os sacrifica ou os sentencia mais do que suas próprias consciências? Ó doloridos homens acorrentados!
O movimento intermitente de lâmpadas hipnoticamente colocadas para distrair e a claridade dos neons os embota de tal forma que chegam a pensar que estão resgatando a última chande de viver.
O único clima de abafamento não é atmosférico. Reside, sim, na ansiedade posta no ar pelo corre-corre das compras, das dívidas, das dietas desregradas e do frisson que consumimos sem pestanejar.
Por onde andará nossa capacidade de respirar com a normalidade das horas? Em que local encontraremos a caminhada dos ponteiros segundo os critérios rítmicos estabelecidos pelo pêndulo temporal? Pergunto-me: tudo isto para que chegada? Angústia de quem busca, medo de quem encontra. Não posso deter a marcha, mas posso observar ao meu redor e ratificar a minha tese de que o que nos engolfa não é o tempo. Somos tragados, como carne mal mastigada, pela garganta da nossa cegueira diante do inevitável curso das areias que se esvaem inexoravelmente.

Um comentário:

  1. Tempo, tempo, tempo, que não pára, e quando chega o final de ano realmente me angustio por sonhos que não realiados, e neste ritmo louco, não páro pra pensar que o senhor tempo não liga a mínima pra minha angùstia. Mas tem o contraste disso tudo que é mágico: a alegria e encantamento da chegada do natal, que curto demais. Aí entro em conflito com minha angústia de mais um ano vivido sem grandes grandes conquistas e o novo ano que virá e engolirá mais ainda a juventude que à muito ficou longe e me aproximo do caos do meu espelho. Tenho muito ainda para aprender e aceitar. Obrigada por mais essa pérola de texto.

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