terça-feira, 22 de novembro de 2011

Pedido


Ingressos comprados, casa cheia. Apreensão natural dos instantes iniciais. Os três toques anunciam que é chegada a hora. Aberta a cortina, não havia retrocessos. Ausência de som em toda a plateia. No centro do palco, um foco que se ampliava e o feixe de luz ia consumindo o breu lentamente até que se surge por completo a personagem.
Tinha início a peça.
O vazio do entorno dava ares ainda mais abissais ao espaço, ocupado somente por uma única peça – eu! A árdua tarefa era clara: deveria sozinho ser capaz de preencher toda a área.
A voz tronante (em off) faz a leitura dos autos da peça e assim o enredo se esclarece. Tratava-se da minha vida. O movimento do corpo, como quem busca encontrar cada peça do grande quebra-cabeças, tateava cada centímetro do chão ainda escuro. Levava no corpo uma peça leve de algodão pouco talhada, mas não mortalha que ganhava peso na medida em que me deslocava. A primeira fala abria o tempo da discussão: “Que ninguém me peça explicação! Nem eu a possuo, pois então!”

4 comentários:

  1. Pois é, minha grande amiga. Não é a solidão do sozinho, mas o vazio que nos garante uma certa distância do mundo! Beijos..saudades de vc!

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  2. Amo os seus escritos;bate fundo na alma entre solidão e questionamentos! Razão para quê?
    Besos!

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