terça-feira, 25 de outubro de 2011

Querer e poder


A dicotomia faz parte do alicerce da vida. Ai do homem que se deixa engolfar pela pressão exercida por essa divisão constante. Hora quando se quer, não se pode, hora quando se pode, não se quer. Fazer o quê, então? Drama? Dilacerar-se? Magoar-se ou magoar? Perda de tempo. Devemos coadunar os momentos em que a tranquilidade nos acena com os instantes em que os desejos e os planejamentos se tornam inexequíveis.
Quem, dentre nós, nunca passou pela situação de desencontro entre o que pensava ser o ideal e aquilo que encontrou na incompreensão generalizada dos homens e dos acontecimentos? Pois é isto, sem tirar nem por! Somos o somatório das alegrias (quando tudo concorre para nos atender) e das tristezas (quando chafurdam as nossas expectativas).
Porém, eu lhes pergunto: Quem morrerá por não ver satisfeitos os seus caprichos? Morre sim, mas morrem as ilusões. Estas... ora, ora..estas são assim mesmo...nascem e fenecem. Foram feitas para isto!
No crepúsculo delas, abrem-se os sulcos na terra da esperança para que mais tarde possam brotar novas construções de vida.
De par em par, abro as portas da minha existência e reconheço, firmemente, que não terei tudo do jeito que penso, até mesmo porque, meus pensamentos também passam e no escorrer da areia do meu tempo se transformam e me fazem crescer.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Anjo e demônio

Tempo, monstro e mago dos meus dias, tu me devoras ao mesmo instante em que me transformas. Quimera e herói a atuar em meu sono, é o teu susto que me dá a chance de progredir. Senhor dos dias, opressor dos homens, negociador da humanidade, cura dos males, tantos os teus nomes, irrogavelmente verdadeiros que chego a sentir a inexorável vontade de me lançar a ti.

Num lapso de entendimento de minha pequenez seria esta a minha resolução. Contudo, alegro-me em reconhecer que passados os poucos segundos do pensamento daquela entrega a qual me deixaria levar, sou surpreendido pelo voraz desejo de deixar que tu mesmo te consumas em tuas areias. Busco, ao emergir da tua ampulheta, a liberdade do meu respirar e se queres, realmente, continuar a ser quem és, vem e vença-me. Pois se deixares para que eu assim o decida, perder-te-á em ti mesmo e triunfarei como Teseu que, sem olhar para o obstáculo, usou do ardil do fio para retornar daquilo que o aprisionaria.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Pelos meus olhos


Desde muito cedo aprendi que cada dia é uma explosão de luz e, neste parto diário, encontro o conforto para seguir crendo em meu papel de colaborador desta emissão luminosa que clareia a vida. Sucedem-se os instantes e, na medida do possível, vou eternizando-os na alma, sem arrependimentos pelas ações, mas com a certeza plena de que as falhas (que são humanas, como diz um “velho” amigo - “sou lúcido!”) servem-me para que eu cresça.
Sem saudosismo ou sentimentalismo, consigo olhar ao redor e perceber o caminho riscado pelo lume do qual eu também sou partícipe. Espero, com isto, jamais fugir do brilho do olhar que nutre as convivências.
Eis a razão de minha existência e que me perdoem os que só conseguem enxergar o cinzento e empoeirado do tempo, mas eu me manterei (e não é proselitismo) no firme propósito de ver sempre o copo pelo prisma do “meio cheio”, antes de observar o vazio restante. Prefiro agradecer a existência ainda de alguma água, antes do derrotismo do espaço oco da outra metade do recipiente. É tudo uma questão de ótica e esta é a minha.
Não se arvorem ao julgamento de eu ser um otimista tolo e nem se deem ao trabalho de acreditar que é pueril inocência de quem nunca sofreu. Ao contrário, é a atitude de quem entendeu que a melhor forma de se defender das agruras e das dores é não se deixar levar pelo obstáculo antes de apostar que a mais adequada saída se encontra em si mesmo.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

04 de outubro


No dia de hoje, peço-lhes permissão para que eu me afaste um pouco dos meus devaneios para poder falar de alguém que soube ser na vida um filho de Deus.
Sua história é tão singular que mesmo diante de todos os dogmas estabelecidos pelas congregações, inclusive uma das mais poderosas (a Igreja Católica), ele foi exceção. De um modo geral, os que são reconhecidos no mundo ocidental como santos passam a ter suas datas festivas por ocasiões grandiosas como os seus nascimentos. Nem isto, a egrégora de Francisco de Assis, respeitou (com todo respeito!). Não se comemora o dia do Santo italiano pela data do seu natalício – muito menos pelo dia de sua morte. Muito de sua biografia já consta no ideário da humanidade e muito do que dele se sabe mistura-se a questões poucos comprovadas. Mas o que isto importa?
Alguns só acham que Francisco era um santo que falava com animais. Entretanto, ele foi muito mais! Giovanni di Pietro di Bernardone foi alguém que, havendo experimentado a vida, optou seguir o seu coração. Coragem para deixar o luxo não deveria ser o tópico mais importante daquele jovem. O que o torna a expressão da Comunhão com o Divino não é o abandono puro e simples dos bens materiais. O que define a personalidade desse filho de comerciante é a submissão à crença de que o Ser Supremo lhe falou à alma! Quantos homens também investem no abandono do lar, das posses e das relações sociais e nem por isto se tornam santos? Francisco não era, como se costuma dizer, “morno” com relação a Deus. Isto santificou a sua história. A imagem bucólica desse ser humano (na concepção mais plena de humanidade) ultrapassa os passeios no campo, o afago na cabeça dos bichos ou as pombas em seu redor. Francisco, muitas vezes, foi austero e inflexível; foi duro e irredutível. Não por teimosia, mas por absoluta certeza de que na Terra sua missão era a libertação da alma.
No dia em que se comemora a chegada de seu corpo, já sem o alento vívido, à cidade de Assis para o seu sepultamento, minha voz se unem a de tantos outros que como eu louvam este louco de Deus.