Iam pela vereda os dois de mãos dadas. O Primeiro, adulto nos anos que possuía, segurava forte a mão do Segundo, criança na idade que levava consigo. O destino, do outro lado da rua, esperava-os. Entretanto, o fluxo dos veículos que circulavam por ali impedia, num primeiro momento, que eles atravessassem.
Primeiro, homem de histórias já vividas e ouvidas, tentava ser prudente, buscava a faixa de pedestres para cruzar o caminho. Segundo, menino menos provido de cancha e movido pelo entusiasmo, queria aproveitar as brechas dos pequenos engarrafamentos que nasciam no asfalto.
A tensão se refletia no esticar de ambos os braços. Um puxando para encontrar a segurança da travessia e o outro se jogando para lá do meio-fio, vendo entre os vãos dos carros que se abriam diante dos seus olhos uma chance de passar.
Via-se que Segundo preocupava-se com Primeiro, ajudando-lhe a não tropeçar nos buracos da calçada. Bonito cuidado da inocência quando se crê poderosa! Da mesma sorte, Primeiro se esmerava em dar sustento a Segundo para que este não corresse riscos. Belo exemplo da experiência quando já vira na pele resultados das ações passadas! E não pensem que na trajetória deixava de haver a clara ajuda mútua. Se o maior queria ensinar a correta forma de cruzar a via, o menor dava mostras da necessária agilidade que os anos fazem esquecer.
Primeiro cauteloso, Segundo ligeiro. Um pelo vivido, o outro pela descoberta.
Desta maneira, caminharam até que a lei da complementaridade os fez chegar à sua meta. O arfar dos “uffs, conseguimos!” no mesmo tom de voz denuncia as suas identidades: No Primeiro me reconheço, neste momento em que vivo, enquanto que no Segundo percebo o que fui há tempos atrás. Seres em um mesmo ser que luta nas correntezas das possibilidades e reluta, tantas outras vezes, na contrapartida das oportunidades. Os dois sou eu!
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