terça-feira, 16 de agosto de 2011

Interjeição


A jovem já pronta para sair. Nos dizeres antigos, mas muito apropriados, de minha avó, estava ela toda “emperequetada”. Preparou-se do mais delicado jeito e forma. Maquiagem primorosa, vestido bem cortado e acinturado. Sandálias luzindo e bolsa impecável. Todo o preparativo tinha em mente a expectativa de pelas ruas poder ouvir de diversos lugares o mesmo diapasão: esperava ouvir os “óhs” que os observadores lançariam em reconhecimento a todo o esforço da produção. Coração meio acelerado não via a hora de ir. Olhadela final no espelho do hall de entrada (que nesse momento se fazia de saída) e lá se foi!
O dia estava claro diante dos olhos, afinal, o desejo movia os passos... O primeiro minuto se foi... passou o segundo, o terceiro.... os ponteiros do relógio eram inclementes e pareciam acelerar o tempo. Nada a moça ouvia daquilo que tencionava. Nem um longínquo suspiro. Nada! Deu voltas, escolheu outros itinerários, retorceu esquinas, esticou avenidas... em vão.
Teve que voltar e abrindo a porta de casa, largou a bolsa, tirou os sapatos, recusando-se a abrir as cortinas. De que serviria a luz do dia? Foi para o banho, a água morna relaxou a musculatura tensa da caminhada. Permaneceu ali um bom tempo!
Já no quarto, corpo seco, cama pronta, decidiu não se vestir. Desnuda e exausta, deitou-se! Nesse momento, sem ousar nada pensar, começou a sentir um vibratório deslocamento de ar que vinha de fora. Aquietou os sentidos para prestar mais atenção e percebeu o estrondoso som oriundo de muitas direções. A percepção do espanto foi compreendida no eco de um retumbante “Oooooooh”.
Adormeceu com a lição aprendida de que por mais ouro que se possa vestir para os outros, ninguém é mais valioso do que no silêncio e a nudez para si mesmo.

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