Entre um devaneio e outro, a pausa de meus sentidos apressados fez-me perceber ao longe uma melodia. Confesso que, cansado de engendrar tantos pensamentos, não fui capaz de reconhecer se era uma música produzida por instrumentos do mundo real ou se fazia parte do preenchimento do vazio da mente. A única coisa que posso afirmar é que me deparei com mais uma das verdades (ainda que as verdades sejam sempre parciais) que vou carreando ao longo da minha jornada: a genialidade não carece de tantos elementos para ser considerada descoberta. Pode deixar que tentarei elucidar a questão!
Uma sinfonia, numa análise determinada, é composta da magistral combinação de sons. Entretanto cabe dizer que são somente sete as notas musicais, em escalas diversas, mas restrita e exclusivamente sete. O trabalho – a árdua tarefa da sensibilidade, da emoção, da sorte e do suor – consiste em dar vasão às múltiplas possibilidades e, arrisco-me a dizer, repetitividades dos acordes. E quem pensa que sobre tudo já se criou, pode ser surpreendido com uma nova métrica, uma inédita ária.
Assim também o é na análoga vida. Somos uma apanhado de alguns procedimentos e, magicamente, deparamo-nos com a necessidade de revitalizar o que somos – a bagagem que trazemos – objetivando dar sentido à existência. Mesclamos, selecionamos e até reinventamos (dentro dos limites do que temos nas mãos) a orquestração de nossos dias. Não devemos, logo pois, contar com os fatores estranhos as nossas matérias. Obriguemo-nos sim ao exercício da arte combinatória e, certamente, o resultado trará a harmonia da audição de quem se lança na tarefa de se auscultar.
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