terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

As 7 Qualidades Capitais

Uma pergunta tem me sondado os dias: Por que devo sustentar minha vida através dos limites do inescrupuloso? Não consigo entender como fazer o caminho a partir do medo! O que leva os homens à imposição do temor para garantirem a supremacia de suas instâncias? Será insegurança ou vergonha a instauração dos limites. “Não ande por ali”, “Não pise acolá”, “Tomar este rumo lhe condenará a alma” e tantas outras frases de efeito que, por repetição, afastam-se da reflexão. Ninguém pode comprometer a eternidade tão somente por aprender a entender as limitações. Não se vence a batalha sem se conhecer os inimigos. Homem algum pode enfrentar o mostro se na peleja já entrar derrotado. Alguém pode me dizer, baseado em razões plausíveis, por que devo pautar a vida pelo não-erro ao invés de vasculhar em mim mesmo o conforto do acerto? Certa vez, fui inquirido sobre meus pecados. Retumbante palavra, ferina e maltrapilha ecoou na alma, travou as explicações querendo que eu me desfizesse de mim mesmo. Mas se só se conhece a noite porque há o dia para se contrapor, como entender minhas virtudes (se as tenho!) sem compreender o que me tolhe? Não proponho a anarquia dos sentimentos, mas vale à pena aferir alguns quesitos dentro dos torpes comportamentos humanos. Façamos, antes pois, um estudo de cada uma das imposições dogmáticas dos pecados (e que me convençam deles) para que só então, venham os doutos do cerceamento alheio me dizer que não vivi!

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Jogadores no tempo

O olhar mais aguçado não é o que busca os detalhes para formular as críticas, é sim aquele que pelas lentes da presteza e da coragem encara seja o que for. Estive a observar, no horizonte, uma pequena e alongada nuvem que se movia no seu ritmo segundo as condições atmosféricas de onde se encontrava. Logo imaginei: “Em quanto tempo pode ela chegar até aqui?” Nem a expectativa de ver atendidas as minhas especulações foi suficiente para que eu pudesse esperar a sua chegada. Perdi, então, naquele momento, a chance de observar as modificações que o sabor do vento transforma. Somos assim também com relação aos homens e somos muito mais severos ainda quando tratamos de nós mesmos. Se, claramente, percebemos as formas e no tempo de nossas exigências conseguimos enxergar, ótimo! Deixamos correr solta a formulação das ideias e não hesitamos em construir valores e conceitos. Entretanto, se somos ameaçados, no menor das impossibilidades, aí então dispersamos e dispensamos a oportunidade de crescer. A conclusão que, inevitavelmente, podemos chegar é a de que vilão não é a areia do tempo que escorre. Saibam, pois, que a grande opressora nesta história é a nossa intolerância que joga conosco pacientemente diante do tabuleiro.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Presente do Indicativo

Permita-me, caro Andrade, revisitar a sua assertiva e, retocando-a, dizer: amar é verbo no Presente (e do Indicativo, ainda por cima!). Aquele que se arvora a pronunciá-lo no pretérito deveria rever o que sentiu, pois, provavelmente não tem a compreensão exata daquilo pelo qual estava passando.
Quem ama guarda numa espécie de hiato do “agora” a coleção das vivências e descobertas mais significativas que se pode ter. Quem ama aprende a abrir espaços em suas reticentes manias e vícios para não ofender o alvo do amor e busca também, ao mesmo tempo, uma forma de dar explicações para o fechamento das tantas outras possibilidades que contrariam os seus desejos. Para amar, o homem se esmera em ser o que talvez ainda não é, mas crê no vir a se transformar. Quem ama agrega quando lhe convém e tem o dom de espalhar quando não consegue se manter na posição da conquista. O tempo de amar é o jogo que transita entre o laço e o cofre. Ao amar, desfila-se pelas ruas com o sorriso exposto da exibição na mesma medida em que se mantém alerta os sentidos que fazem recuar frente às ameaças ladinas dos olhares alheios. Três, pelo menos, são as chances de amar:
- Ao pensar que não foi amor, esforço-me em construir profundos calabouços para aprisionar o que me enganou.
- Se, distraidamente, no recôndito dos pensamentos me escapa um “amei”, é porque não era amor.
- Mas se amo, cansa-se o vento das tantas vezes em que lhe lanço as palavras.
Então, pelo axioma da ilógica experiência, se amo (no Presente), é porque entendo que amar é verbo de verdade!

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Autorretrato

Sei que minhas palavras são mudas aos teus ouvidos. Não por lhes faltar importância, mas porque elas ainda não nasceram, apesar de lutarem comigo. O que tento te dizer é resultado de um eterno produto inacabado que exponho à luz dos olhos dos homens. Nada mais escrevo a não ser o instante da contemplação que se engata no tempo imediatamente antes de existir: é a fecunda realização. Inevitável é não deixar de sentir o incômodo do arrastado movimento da areia que escorre e me angustia. Segue a vida e eu, pressionado pelos espectros que me assombram, tento exorcizá-los no papel antes que eles me calem. Surgem, ora pois, as linhas e os traços paralelos tantas vezes, difusos e confusos outras tantas. Divergência esclarecedora que se direciona a mim. Descubro quem sou.