quarta-feira, 24 de abril de 2013

Cotidiano


N'outro dia me perguntaram por que eu não escrevia sobre o cotidiano. Cá eu a pensar em uma boa sentença que satisfizesse meu interlocutor, transformei as minhas reflexões internas em palavras sonoras, como se conversa fosse:
- Falar do preço exorbitante do tomate ou do ranking que ele disputa com a cebola. Discorrer sobre os monstruosos engarrafamentos da Radial Oeste até que cheguem a Copa e as Olimpíadas que nos livrarão das tensões geradas no volante e, talvez, venham a nos redimir dos xingamentos pensados e ditos entre dentes no tempo desperdiçado no mar de veículos que ferviam. Tecer elucubrações sobre se o atentado na maratona teria sido muçulmano ou vietnamita. Juntar-me às vozes dos que criticam a corrupção dos Poderes instituídos pelo próprio voto, enquanto povo. Revelar a tensão das mudanças contemporâneas que nos expõem, inclusive, quando estamos dentro de casa. Ou ainda dizer que os realitys shows são perda de tempo, mas no silêncio da porta fechada, o controle remoto - “sem querer” - parou naquele canal.
E depois de toda esta enxurrada de dia a dia, parei... respirei e sentenciei: Deixe que a vida por si só se encarregue de comentar o que os olhos, ouvidos e bocas já se arvoram na tarefa de anunciar. Que eu cumpra a parte do descanso (tempo-hiato das angústias que percebemos). Deixe que comigo permaneça a manutenção da ilusão de que vale a PENA, gastar tintas de minha PENA não com as PENAS da dor. Muito mais sentido terá usá-la como PENAS das asas altaneiras do meu delírio libertador.

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