terça-feira, 27 de dezembro de 2011

As três pedras

Haviam brotado da mesma queda d’água as três pedras. Em tempos diferentes, situações particulares, mas o fato é que do mesmo curso vieram. Enquanto não foram ameaçadas por nenhuma torrente originada de temporais, os três minerais permaneciam algo próximos. Mantinham determinadas distâncias muito em função de suas experiências individuais, mas conseguiam acompanhar os seus cotidianos. Estavam perto, sempre perto, guardando e respeitando os limites umas das outras.
Mas nada como o tempo e o seu transcurso para que, após grande ameaça de temporal, viessem a ser tomadas de assalto por uma corrente muito caudalosa do rio da vida. A força das águas foi tanta que lançou cada pedra para um lado. Afastando o campo de visão, nenhuma das três mais conseguia ver as duas outras restantes. Acharam que estava traçado o destino e começavam a se contentar com o novo rumo que tudo havia tomado.
Porém, cumpre a sabedoria do inusitado a tarefa de surpreender, numa repentina manhã, quando nada mais se esperava de diferentes, já no fluxo normal do rio, eis que se reconhecem as três pedras.
Passada a emoção primeiro do encontro, os três irmãos renovaram a sua origem, compromissaram-se na verdade e decidiram viver a compreensão total do que significa para sempre. Sabendo que nem todas as vezes será tão próximo em contato físico, mas há de ser eternizado o acordo fraterno da felicidade.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Destino

É impressionante a forma como a vida nos impõe tomadas de rumos que são independentes de nossa bagagem emocional, espiritual ou mesmo das experiências da vida fenomênica. A angústia e o receio têm que obrigatoriamente dar espaço para a ação. Coração de lado, lágrima retida, solidão da decisão. Eis o jogo da lila cósmica a nos impulsionar.
Nos meandros do desconhecido haverá, por certo, explicações que nos são vedadas por proteção. Para que não nos assustemos com o que fizemos, dissemos ou pensamos e terminados por impregnar a existência mais ampla que uma vida só. E para que não acusem nossas linhas de enigmáticas, o que se traduz hoje são as impressões do karma que quando desabam sobre nossas cabeças entram como estrondo ensurdecedor.
Conclusão: tampão nos ouvidos e resoluções. Lá vamos nós!

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

O óbvio e o inédito


1, 2, 3, 4, 6, 7... Pois bem, pois bem. A esta altura você está pensando: “Por que pulou o 5?” Ou então: “Xi, ele esqueceu do 5!” Mas que nada! Calma...calma... Esteja preparado também (e sempre) para ser surpreendido. Crie expectativas, é certo, mas não viva exclusivamente delas, uma vez que só o previsível não sustenta o mundo.
“Era de se esperar.” “Demonstrava uma sequência lógica.” e tantas outras elucubrações podem ser feitas. Ninguém as está proibindo. Porém, flexibilize. Prepare-se para poder não contar com o esperado, afinal de contas, a humanidade evoluiu a partir, muitas vezes, do que os demais não conseguiam crer e nem contar.
E quem foi que disse que projetos não são válidos? Olha aí novamente você tomando as primeiras letras para concluir o restante. Sonhe, idealize, projete, busque no presente os elementos que podem servir de esteio para o futuro... Entretanto, por favor, não cristalize e não engesse a magia das múltiplas possibilidades.
Alguns se frustam pelo que “consumiram de tempo” e pelo que não conseguiram observar do resultado tim tim por tim tim como haviam arquitetado. Estes se esquecem de que a vida é feita de um tempo real (gasto no momento) e impalpável (vivido pela lembrança e pela esperança). A ciência (ou arte, não sei bem) é lidar com os dois aspectos temporais (do dizível e do imprevisível). Por estas razões, não se furte da aventura de transitar entre a obviedade o ineditismo. Arrisque viver!

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Irmãs gêmeas

Sentou-se ao meu lado, com a educada frase “com licença”.Vestia-se bem, portava-se melhor ainda. Gestos tranquilos, voz calma. Boa aparência no geral. Iniciou a conversa, mesmo sem saber se eu queria, com os desgastados comentários sobre a beleza do tempo e da temperatura ambiente. Para não ser descortês, aquiesci e concordei vagamente com sorriso “mais ou menos”. Diante da minha resposta, prosseguiu na tentativa do diálogo. Não estava ali com tempo marcado e nem estava com projeto algum. Razão pela qual, dirigi um pouco mais meu corpo na sua direção, relaxei e ampliei as respostas. Das genéricas atmosféricas, não sei como e nem porquê, chegamos a outras assertivas e interrogantes. Não havia nada de maldade (isso era perceptível). Desta forma, em determinado momento, notei que as perguntas extrapolavam a curiosidade e eram quase que formulações de ideias que precisavam de minha confirmação. Como poderia aquela mulher saber tantas coisas sobre mim? Coincidência nas perguntas amplas demais que se pergunta a qualquer um? Notava que não! Cada vez mais as perguntas se tornavam mais específicas. Ela, serena e bem colocada, movia-se e eu, sem entender, envolvia-me!
Não aguentando mais aquele mistério, era minha vez de interpelar:“A senhora me conhece? Como é possível ter essas informações sobre a minha pessoa sem me conhecer?”
“Acalme-se! Não é para espanto e nem desespero. Posso lhe explicar.” Assim, iniciou o breve e o mais profundo discurso que já tinha ouvido!
Eu e minha irmã sempre lhe acompanhamos muito de perto. Desde sempre e para sempre nossa missão é estar ao seu lado. Não há como ser diferente. Por isto sabemos absolutamente de tudo que você fez de forma consciente e até mesmo quando você agia sem ter claro para você mesmo os seus atos. A diferença entre mim e minha irmã é uma única. Dela você sempre se lembra e se aferra cada vez mais. De mim, você, como a grande maioria, acaba esquecendo, rejeitando, não querendo conhecer e muito menos cogita ouvir-me. Já me acostumei, não sofro por isso, mas confesso a você que seria menos doloroso para todos se me vissem como gêmea mesmo de minha irmã. Não para assustar ninguém. Seria tão mais brando, geraria menos traumas, facilitaria a compreensão e a vivência se todos aceitassem de vez que vida e morte “nascem” no mesmo instante em que o homem chega ao mundo.