Deparei-me tentando justificar os meus paradoxos. E o mais sério da questão era que tentava explicá-los para mim. Seria uma desculpa para seguir incorrendo no erro de me perder no tempo ou uma ingênua forma de me entender? Somava-se a este sentimento mais uma pergunta: Acaso existe esta possibilidade última de se auto-entender? Insistência jamais foi persistência, é verdade, entretanto, caminhar pelos meandros de ambos os lados – do tempo que escoa e do próprio conhecimento – faz-me sentir mais seguro, não das respostas, mas da certeza de que estou, ao menos, tentando.
Não quero dar mais importância ao fato do que ele merece. Porém, é inevitável não me sentir incomodado por ir descortinando diante dos próprios olhos que há uma série de incongruências entre aquilo que sou, o que pensam que sou, o que acho que sou e o que acredito que deveria ser.
Não entendeu? É fácil! Basta que você se coloque no meu lugar e se indague: Sei exatamente quem eu sou? Se sei, por que é então que alguns não me entendem? Não têm os outros esta obrigação, mas, hão de convir que, em havendo um hiato entre o que penso de mim e a forma como esse “eu” chega ao outro, alguma divergência deve existir. Deste modo, minha figura não é outra se não é a instauração da perplexidade que me assalta no exato segundo em que acordo e alimento a esperança de ter mais um dia para me surpreender em mim mesmo.