quarta-feira, 22 de maio de 2013

“Minha pátria é minha língua”

Certamente não é só a Camões a quem devo agradecer. Tudo bem que o gajo levou para além-mar a fama da codificação da língua. Mas o encanto de poder hoje explanar o que vai em minh'alma ultrapassa a façanha do vate patrício. Resvala, sei lá onde, na fronteira de uma dissenção do velho tronco linguístico, perdido na história da minha memória, que me permite entender com clareza a diferença entre "ser" e "estar".
Pobres das ramificações daquela imemorial árvore que não conseguiram isto e enfiam no mesmo saco de gatos os dois verbos de ligação (ou de cópula, ops!!!!!!!).
Mas para mim, lusofalante de berço e metido a entendido na profissão, brota-me o alívio de discriminar um do outro. E antes que me torpedeiem crendo achar que aqui vão linhas de uma aula do vernáculo, vou, antecipando-me às apedrejadas, dizer o que me leva a divagar sobre este par de palavras:
Há os que querem porque querem estar felizes. E as condições que exigem da felicidade são as temerárias temporalidade e circunstâncias. Como tal, falíveis e findáveis vez por outra ou tantas vezes até. E alegram-se em momentos tão escorregadios que chegam a acreditar que a tal felicidade existe e não cabem em si de contentamento. Porém, como um rio que seca pelo calor das intempéries, vão do estado efusivo à desilusão solene. Estar feliz acaba por se tornar um peso. Tomo-lhe emprestado, amigo poeta – já acima citado seu nome – o vocábulo que me ajudará a compor o contraste: Falamos, então, dos que vão do “fado ao fardo” num piscar d'olhos! Ó dó!
A vida não é povoada exclusivamente dessa categoria. Existem – ainda bem – aqueles que são felizes não porque o entorno colabora (nem há mal nisso, se colaborar melhor...), mas sabemos nós que nem sempre colabora. São os que não depositam a culpa da existência nos ombros alheios e nem petrificam os instantes intensos como única condição de desfrutar da felicidade. É tarefa sua e de mais ninguém.
Não estou a dizer que é fácil escolher entre ser ou estar feliz. O que aconselho é que reflitamos sobre o que melhor nos convém ou o que mais serenidade nos traga. De minha parte o esforço é pelo estado mais permanente em detrimento da transitoriedade. Agora, ancorando mais nas estruturas dos falantes das bandas de cá do Atlântico, “cada macaco no seu galho.”

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Luz e sombra


Há os que chamam aquilo que se projeta no chão – resultado da minha interposição entre a luz e a superfície – de sombra. Eu, entretanto, surtado delírio em meus devaneios racionais, intitulo reflexo de mim. Lado menos agradável (talvez) de se ver ou de se reconhecer, mas parte integrante do que me constituí na íntegra. Não seria eu, se não houvesse ambas as partes (a agradavelmente instaurada e a escarnecida aconselhada a ser olvidada). Mas enquanto elas martelam minha mente, como esquecê-las?
Nada, a princípio, do que me conforma pode me denigrir ou envaidecer a ponto de rechaçar para o canto sombrio de um conceito arraigado e entendido como nefasto. Nada! Nada de mim poderia ser extirpado ou enaltecido pura e simplesmente devido às solicitações. Convivo com a sombra que meu corpo projeta com o objetivo precípuo de me compreender um pouco mais.
Tarefa hercúlea esse tal ensimesmamento.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Sedução e receio

Algo que me aflige e, na mesma medida, me fascina é o tempo. Não é o medo daquela velha máxima da “inexorável marcha”, muito menos o arrepio de alguns que se dão conta da infalibilidade e da falência de tantas questões. Muito de longe também, não é a inevitável lei da gravidade, nem as rugas na pele. Nada disso!!!!!!! Até porque contra isso que o remédio que foi inventado?
Alimento a dicotômica sensação pela suspeita de que ele – o tempo – é mais do que os ponteiros dos relógios podem registrar em suas rotas compassadas e ritmadas.
Há certamente um segredo entre 7 chaves nas mãos do senhor dos calendários e que poucos conseguem saber. Pergunto-me: e a que preço esses raros privilegiados são cobrados? E mais ainda: como conseguem pagar?
Na barreira das limitadas visões, um mundo jaz nos domínios atemporais e tentam resgatar as nossas mais profundas lembranças, mas que por autodefesa não encontram respostas. Romper a linha tênue entre o que creio existir e o que meus parcos olhos conseguem enxergar é minha meta. Atingir-la-ei? Não sei... mas haverei de continuar tentando (ou quem sabe tentado a continuar).