Olhando aquela dourada pequena jaula, viam-se amuados – ou talvez
amontoados – os sentimentos. De quando em vez saltava um mais
afoito para exercitar as asas ou mesmo ceder espaço para que outro
pudesse espichar as suas.
A menininha, apiedando-se dos aprisionados, engendrava um plano para
dar fim àquele sofrimento.
Sorrateiramente aproximou-se e levantando a tranca deixou entreaberta
a portinhola.
Bateram em revoada. Cada um dos sentimentos que passava rumo à
liberdade dava uma paradinha na abertura, olhava pra um lado, olhava
pro outro, tentava entender qual a melhor direção e partia. Foi uma
enxurrada de atropelos. Cada um dos ex-detentos queria o mais rápido
possível a nova ambientação, mais espaçosa e mais instigante.
O que lhes espera lá fora ninguém poderia ter certeza e a única
maneira de saber era lançando-se à empreitada. Haveria um tempo de
readaptação. Deveriam contar com isso para não acharem que esse
“outro mundo” não era o mais adequado ou mais assustador. A
verdade é que toda nova experiência requer cautela. Entretanto,
salutar dizer que se esquivar, voluntariamente, de uma chance é
acovardar-se. Não estamos falando das inconsequências tolas dos
arvorados. Referimo-nos, aqui, sobre a capacidade de se auto-medir e
gerenciar o inusitado como forma libertadora dos marasmos habituais e
cansativos.
É tempo de buscar dar mais amplitude (e amplidão), mesmo porque só
sabe o seu limite quem se permite entender. Bom exercício este, não?
Você se inscreveria nessa tarefa?
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