terça-feira, 10 de julho de 2012

Revoada


Olhando aquela dourada pequena jaula, viam-se amuados – ou talvez amontoados – os sentimentos. De quando em vez saltava um mais afoito para exercitar as asas ou mesmo ceder espaço para que outro pudesse espichar as suas.
A menininha, apiedando-se dos aprisionados, engendrava um plano para dar fim àquele sofrimento.
Sorrateiramente aproximou-se e levantando a tranca deixou entreaberta a portinhola.
Bateram em revoada. Cada um dos sentimentos que passava rumo à liberdade dava uma paradinha na abertura, olhava pra um lado, olhava pro outro, tentava entender qual a melhor direção e partia. Foi uma enxurrada de atropelos. Cada um dos ex-detentos queria o mais rápido possível a nova ambientação, mais espaçosa e mais instigante.
O que lhes espera lá fora ninguém poderia ter certeza e a única maneira de saber era lançando-se à empreitada. Haveria um tempo de readaptação. Deveriam contar com isso para não acharem que esse “outro mundo” não era o mais adequado ou mais assustador. A verdade é que toda nova experiência requer cautela. Entretanto, salutar dizer que se esquivar, voluntariamente, de uma chance é acovardar-se. Não estamos falando das inconsequências tolas dos arvorados. Referimo-nos, aqui, sobre a capacidade de se auto-medir e gerenciar o inusitado como forma libertadora dos marasmos habituais e cansativos.
É tempo de buscar dar mais amplitude (e amplidão), mesmo porque só sabe o seu limite quem se permite entender. Bom exercício este, não? Você se inscreveria nessa tarefa?

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