terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Onde repousa a alma

Por entre as cúpulas das ermidas, santuários, capelas e igrejas matrizes minh’alma caminhou. A quietude, que recuperava o valor das pedras ali erigidas, reconhecia o esforço de tantos e notava a devoção de muitos. Não havia espaço para qualquer palavra. Todas seriam inúteis.
Mais do que paredes, pinturas e imagens, naqueles templos, repousa a confiança do homem em um amálgama de promessas e gratidão. Por completa e misteriosa sintonia, meus pés, ao cruzarem os portais, conseguiam distinguir o esforço do somatório do tempo das existências.
Persigno-me contrito e deixo que meu coração cresça a cada encontro que independentemente de ter os olhos abertos ou não, faz-me preencher de Deus! Passo a passo, busco perceber os detalhes que abrem meu coração em direção ao indizível mundo da fé.
São bandeiras, abóbadas, átrios, candeeiros e círios. Depositários das esperanças na forma de oferendas que, cautelosamente colocadas, refletem, no dourado dos objetos, as histórias de seus peregrinos. Sinto-me a interseção do palpável e o imaterial das confrarias celestiais que cantam junto aos foles dos órgãos que ressoam em minhas veias. Atravessando os limites da linha que move o universo de experiências e por tamanho reconhecimento da dádiva vivida naqueles dias, não me resta outra atitude a não ser a de dobrar meus joelhos, levantar meu rosto em direção à nave central onde se ergue o madeiro e em oração silenciosa dizer amém!

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Insistente

Desenhada em meu rosto,
Insistes em perpetuar-te
Como se imagem
Fosses de mim.

Mas eu, teimoso que sou,
Reitero o ato de eliminar-te.
Nesta luta de insistentes,
Voltas a te fixar em minha face.

O que te faz brilhar
Não é luz própria.
Lanças mão do espectro da lua
Para que te vejam
E te valorizem mais do que faço.
Tola, desconheces o quanto precisas
De espectadores para que ganhes vida.

Na verdade,
Nada és sem outros olhos.
Não reluzes sem faróis externos,
Nem te manténs por própria vontade.

Não permitirei que te instaures.
És gota e não oceano.
És filete e não caudal.
És lágrima e não minha morte.

Seco-te e sigo adiante.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Original

Quem foi que disse que tenho que ser sempre original? Essas expectativas não vêm daqueles que buscam para as suas próprias vidas as relações do que escrevo. Não são também os que criam imagens a partir do que produzo que o fazem! Quem mais, então, poderia supor que há que se ter um cunho de ineditismo tão sacralizado nas ideias de minhas linhas?
Os que me seguem poderão encontrar algo jamais pensado, mas sem a necessidade de ser absolutamente extraordinário.
Qual a regra imposta para que meu texto seja sempre uma gigantesca surpresa?
Não restaria nem para a existência e muito menos para o tempo a oportunidade de construírem a história, pois se somente o não-revelado fosse o único a ser valorizado, o que fazer com todas as páginas registradas da humanidade? Pobre Platão, diria eu!
O que chamam de invento não é um isolado conceito de acontecimento, mas sim a capacidade de reviver de forma diferente o que fora posto por outrem. Dito de outra forma, para que não me acusem de confuso, é tomar para si o já criado e forjá-lo novamente.
Do plágio à reinvenção, tudo é possível, mas o que realmente importa é o conforto de quem modela as palavras e o prazer de quem entra em contato com o resultado dessa manifestação.