Há alguns dias, ouvi uma
sentença que tem martelado a minha cabeça: “a diferença conceitual entre sonho
e delírio pode ser tênue, mas os resultados podem ser avassaladores”.
Dando tratos à bola, levei
meus pensamentos a este binômio e eis que aqui estou.
E como se não fosse
suficiente ser atropelado pela frase inquietante sobre o que os difere, fui
além para investigar e concluir que quem sonha constrói, quem delira pode se
perder. O que mais afasta um termo do
outro é o tempo que se investe em cada um. No sonho, o tempo tem tempo para ser
sonho. É contado e é o suficiente para transformar um projeto em realização. No
delírio, o que se diz ser tempo é a permanência infindável da inoperância para
que não se saia do mundo das ideias.
Aquele que sonha, vê; o que
delira, torna-se cego! Sonho é “caminho para”, delírio é “finitude em si
mesmo”. O sonhador alimenta o ideal e avança, o delirante consome o constructo
antes mesmo de torná-lo palpável. Um se regozija ao olhar a obra viva, o outro
se martiriza para nem dar a chance de vir a tona o que pensa.
Ambos, muitas vezes, surgem
no mesmo plano de sensações e vontades, porém, o que os faz serem diferentes,
mais adiante, é o homem no qual eles nascem: há os que querem mudar o estado
onírico – esses são os sonhadores –, como também existem também aqueles que desconhecem
outra possibilidade de ser e estancam a caminhada.
O tolo não é transformador,
enquanto o sábio está sempre buscando abrir espaço para mais e mais sonhar.
Quem sonha tem tempo de ser feliz, quem delira se afunda na tristeza
inexplicável da existência e ainda a culpa pelo infortúnio. Mas se não são
estados voluntários da consciência, que sejam, ao menos, alvo de reflexões.